No último dia de campanha para as eleições presidenciais de domingo, o presidente boliviano, Evo Morales, foi recebido por multidões em seus dois comícios de despedida, no Departamento (Estado) de Tarija e em Santa Cruz de la Sierra. Favorito disparado à reeleição, de acordo com as pesquisas, Evo saudou os ativistas de seus partidos pela liderança em oito das nove regiões do país.
"Essa concentração tão grande de pessoas aqui no Chaco de Tarija me surpreendeu e me deixou muito feliz. Nos meus primeiros comícios aqui, nas primeiras campanhas, não tínhamos mais de 150 ou 200 companheiros e hoje somos milhares", disse.
Evo, candidato pelo partido Movimento ao Socialismo (MAS), disse que os esforços dos eleitores em todo o país serão recompensados depois que ele vencer a eleição e seu partido conquistar a maioria do Congresso no domingo.
O presidente também defendeu as nacionalizações feitas por seu governo e voltou a prometer que transformará a Bolívia em centro energético do continente, "vendendo gás e energia para nossos vizinhos". Para isso, o presidente prometeu investimentos em novas plantas de geração e processamento de energia em todo o país.
A insistência de Evo no assunto não é por acaso, afirmou ao
Estado
o cientista político Carlos Cordero, da Universidade Maior de San Andrés e da Universidade Católica Boliviana. "Está é, possivelmente, a proposta eleitoral mais importante da campanha de Evo", diz. "O problema é que até o momento o presidente não deu detalhes de como a criação de novas hidrelétricas e usinas de processamento de gás - necessárias para pôr o plano em prática - será feita."
Ainda segundo o analista, o governo boliviano possui reservas no país e no exterior que podem ser utilizadas para essas obras, "mas um projeto dessa magnitude demanda planejamento e concorrência".
Marcado para o Parque Cambódromo, em Santa Cruz - região que, como Tarija compõe a chamada Meia-Lua, tradicional reduto da oposição boliviana - o comício reuniria cerca de 80 mil pessoas, segundo organizadores do evento.
Oposição.
Ontem, O candidato da Unidade Democrática (UD), Samuel Doria Medina, evitou criticar diretamente o presidente, mas não poupou o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia. Em entrevista à emissora CNN, Doria Medina criticou a atuação da corte durante o processo eleitoral. "Não foi um árbitro imparcial", afirmou o candidato que aparece na segunda colocação nas pesquisas de intenção de voto.
Doria Medina aproveitou a entrevista para prometer que, se eleito, "fortalecerá as relações da Bolívia com os outros países democráticos" e "combaterá o narcotráfico, com a identificação de quem produz coca para o consumo tradicional e para a fabricação de drogas".
Na noite anterior, durante o último comício na capital do país, Doria Medina se mostrou confiante e - citando o exemplo das eleições brasileiras de domingo - questionou as pesquisas de intenção de voto, garantindo que vencerá Evo nos Departamentos de Beni, Pando e Santa Cruz. "Com o encerramento de campanha que temos feito, podemos dizer que teremos excelentes resultados no sul do país", afirmou o candidato. "Evo vai aprender a lição mais importante da sua vida."
Dificuldades.
O TSE boliviano também esteve ontem no centro de pelo menos outras duas polemicas. No primeiro caso, respondendo a uma denúncia de opositores sobre a possibilidade de fraude, o organismo informou que identificou pelo menos 20 mil pessoas que já morreram - ou cujo nome aparece mais de uma vez no sistema eleitoral - habilitadas para votar no domingo. O TSE prometeu emitir uma lista com todos os nomes para que esses votos não sejam considerados.
O segundo problema diz respeito ao documento a ser usado no dia da votação. Inicialmente, apenas documentos em vigência seriam aceitos. Mas ante às dificuldades para a emissão de novos documentos, a presidente do TSE, Wilma Velazco, garantiu que documentos vencidos também serão aceitos.