Evo Morales se declara vencedor em eleição presidencial na Bolívia

Pesquisas de boca de urna divulgadas no início da noite de ontem mostravam o presidente boliviano muito à frente do segundo colocado na disputa, o opositor Samuel Doria Medina; sondagens indicavam também que líder obteria maioria no Congresso

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Por Murillo Ferrari e LA PAZ
Atualização:

O presidente da Bolívia, Evo Morales, declarou vitória na eleição presidencial de ontem, logo após a divulgação das primeiras pesquisas de boca de urna e antes mesmo do anúncio dos números parciais da apuração oficial. Em discurso na sacada do Palácio Quemado, Evo disse a milhares de partidários reunidos na praça diante da sede do governo que estava "muito feliz, muito contente" com o resultado. "Há um profundo sentimento não só na Bolívia, mas em toda a América Latina e no Caribe, de libertação dos povos. Esse é um triunfo dos anticolonialistas e anti-imperialistas", afirmou. "Mais uma vez, 60% do povo mostrou que prefere a nacionalização a privatização." Na primeira pesquisa de boca de urna divulgada na noite de ontem, Evo, do partido Movimento ao Socialismo (MAS), aparecia muito próximo de garantir seu terceiro mandato no cargo, com 61% dos votos - cerca de 37 pontos porcentuais à frente de Samuel Doria Medina, da Unidade Democrática (UD). A sondagem feita pela empresa Equipos Mori indicava também que o MAS deve conquistar a maior parte das cadeiras no novo congresso - com 111 dos 130 deputados e 25 dos 36 senadores - garantindo assim os dois terços que o partido aspirava para conseguir aprovar as reformas na Constituição desejadas pelo presidente. O objetivo de Evo de conquistar pelo menos 74% do eleitorado, porém, não foi alcançado. Evo deve vencer também em oito dos nove Departamentos (Estados) do país, incluindo Santa Cruz, Tarija e Pando - tradicionais redutos da oposição onde o presidente sempre enfrentou resistência -, com destaque para o desempenho dele no Departamento de La Paz, onde teve 70% de preferência. A única exceção seria o Departamento de Beni, onde Doria Medina teve 49% dos votos contra 43% de Evo. O presidente já aparecia como favorito a vencer no primeiro turno desde que as primeiras pesquisas foram divulgadas em agosto. A expectativa é que o resultado oficial das eleições seja anunciado hoje pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), antes do fim da contagem dos votos. O presidente boliviano votou por volta das 8 horas (9 horas pelo horário de Brasília) na Vila 14 de setembro, Província de Chapare, em Cochabamba. Ao sair da seção eleitoral, o presidente criticou os opositores que questionaram o trabalho do TSE e dos observadores da Organização de Estados Americanos (OEA). Principal candidato da oposição boliviana, Doria Medina votou pela manhã na zona sul de La Paz. O empresário, que concorre à presidência pela terceira vez, havia pedido ampla participação da sociedade para garantir mudanças ao país. "Todos os bolivianos e bolivianas decidirão o futuro da nossa democracia, do nosso país querido. Por isso, é importante que cuidem dos votos para que o processo seja transparente." Quiroga foi o último dos presidenciáveis a ir às urnas, no começo da tarde. Tranquilidade. Ontem, as ruas de La Paz, normalmente caóticas pela grande quantidade de automóveis, amanheceram calmas em razão da lei que proíbe a circulação de meios de transporte durante todo o dia de votação. Para chegar às zonas de votação, os cidadãos tiveram de caminhar ou optar por meios alternativos, como bicicletas. Para o estudante Pablo Molina, de 32 anos, que votou no centro da cidade, o processo eleitoral ocorreu sem dificuldades. "Não gastei nem dez minutos entre o tempo que fiquei na fila, a conferência dos documentos e o depósito da cédula de votação na urna", disse ao Estado. Nem todos tiveram a mesma sorte na hora votar. Em uma escola no Departamento de Santa Cruz, por exemplo, um observador do MAS foi retirado pela polícia após discordar do método de contagem utilizado por integrantes da mesa de votação. Agressões a mesários também foram relatadas pela imprensa boliviana. Além disso, um erro de impressão em cédulas de votação causou polêmica. No cabeçalho das papeletas, onde deveria estar "Estado Plurinacional da Bolívia" havia a inscrição "Estado Plurinominal da Bolívia". A presidente do TSE, Wilma Velasco, afirmou que o erro de digitação "não alterava o valor legal das cédulas".

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