PUBLICIDADE

Ex-advogado pessoal de Trump admite ter violado lei eleitoral a pedido do presidente

Michael Cohen confessa pagamentos ilegais para que mulheres não revelassem casos extraconjugais com então candidato republicano; em dia desastroso para a Casa Branca, ex-chefe da campanha do magnata é condenado por fraude e sonegação

Atualização:

NOVA YORK - Michael Cohen, ex-advogado de Donald Trump, se declarou nesta terça-feira, 21, culpado de ter violado a lei eleitoral americana a pedido do presidente. Ele admitiu ter feito pagamentos ilegais para a atriz pornô Stormy Daniels e para a ex-modelo da Playboy Karen McDougal para que elas não revelassem, durante a campanha eleitoral de 2016, terem tido um caso extraconjugal com o então candidato. 

Michael Cohen deixa cortefederal em Nova York Foto: Jeenah Moon/The New York Times

PUBLICIDADE

Cohen disse a um juiz que os pagamentos tiveram o “principal objetivo de influenciar as eleições” para presidente em 2016, nas quais Trump derrotou a democrata Hillary Clinton. O acordo foi anunciado quase ao mesmo tempo em que o ex-gerente da campanha de Trump Paul Manafort era considerado culpado de oito crimes, incluindo fraude bancária e sonegação, no primeiro grande julgamento derivado do inquérito do promotor especial Robert Mueller sobre a influência da Rússia nas eleições de 2016.

No acordo fechado com procuradores federais, Cohen, de 51 anos, disse ser culpado de oito acusações, incluindo cinco de evasão fiscal, fraude bancária e de ter feito uma declaração falsa a uma instituição financeira. Ele ficará em liberdade após pagar fiança. Sua sentença será anunciada em 12 de dezembro e ele pode pegar de 4 a 5 anos de prisão. 

Segundo a imprensa americana, o acordo não prevê cooperação com as autoridades federais e Cohen teria aceitado a barganha após a promotoria alegar que ele poderia pegar mais de 10 anos de prisão, se fosse condenado. 

Por meses, procuradores em Nova York têm investigado Cohen, incluindo seu negócio com licença de táxi. Hoje, ele admitiu ter feito uma contribuição excessiva de campanha, em 27 de outubro de 2016, a mesma data em que o advogado finalizou um pagamento para Stormy Daniels. 

O pagamento de US$ 130 mil para a atriz pornô foi concluído apenas algumas semanas antes da eleição presidencial de 2016. A atriz processa Cohen e Trump por difamação. Inicialmente, o presidente americano alegou não saber nada sobre o pagamento.

Hoje no tribunal, Cohen, considerado um “faz tudo” do presidente, não citou nominalmente as mulheres ou mesmo Trump. Ele disse ter agido “em coordenação e sob a direção de um candidato para um cargo federal”. 

Publicidade

Sob juramento, ele reconheceu ter trabalhado em coordenação com Trump para que as histórias sobre os casos extraconjugais não se tornassem públicas antes das eleições. Os detalhes revelados por ele batem com os pagamentos feitos a Stephanie Clifford, mais conhecida como Stormy Daniels, e a Karen McDougal, a quem ele teria pagado US$ 150 mil. Cohen disse ter sido reembolsado por Trump depois. 

Revelações comprometedoras

A admissão de culpa e as declarações de Cohen no tribunal representam um momento crucial para Trump: um ex-assessor que já foi leal admitindo ter feito pagamentos a mando do presidente para protegê-lo de revelações comprometedoras. 

Advogados de Trump têm dito há meses, de forma privada, que o caso de Cohen é potencialmente mais problemático para o presidente do que a investigação de Mueller.

PUBLICIDADE

Um deles, o ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, emitiu um comunicado afirmando que não há nenhuma alegação de que o presidente tenha feito algo de errado. “Está claro que, como o promotor (Robert Khuzami) afirmou, as ações do sr. Cohen refletem um padrão de mentiras e desonestidade durante um período significativo de tempo.”

Cohen é o quinto nome associado a Trump a se declarar culpado diante de um juiz ou ser acusado criminalmente desde que Trump assumiu a Casa Branca, incluindo seu ex-assessor de Segurança Nacional, o vice-presidente de sua campanha e um ex-conselheiro político. 

Campanha

Publicidade

Manafort, consultor político de 69 anos, foi considerado culpado de 8 das 18 acusações que pesavam contra ele, incluindo fraude fiscal, bancária e omissão de declaração de contas bancárias no exterior. Ele pode ser condenado a mais de 80 anos de prisão. Nas 10 acusações restantes, o júri não chegou a um consenso para um veredicto, o que levou o juiz a declarar uma anulação parcial.

Hoje, antes de um comício em Virgínia Ocidental, Trump falou pela primeira vez sobre Manafort, mas ignorou o caso de Cohen. Ele expressou seu pesar após tomar conhecimento do resultado do julgamento e descreveu Manafort como um “bom homem”. “Eu me sinto muito triste”, disse Trump a jornalistas, após desembarcar do avião presidencial, alegando que o veredicto é parte de uma “caça às bruxas” ligada às eleições de 2016. / NYT e W. POST

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.