Ex-agente da ditadura argentina é preso em Paris 

Na França, Mario Sandoval tinha organizado uma nova vida, mas sem ocultar seu nome e sobrenome, somente seu passado; chegou a ser conselheiro do ex-presidente francês Nicolás Sarkozy

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Por Redação
Atualização:

PARIS - O ex-policial argentino Mario Sandoval, procurado pela justiça da Argentina pelo desaparecimento de um estudante durante a ditadura, foi preso em um subúrbio de Paris, informou o Ministério do Interior da França em comunicado. 

“A extradição de Mario Sandoval para a Argentina é final e ocorrerá dentro de um período máximo de sete dias”, acrescentou o ministério, horas depois que o Conselho de Estado, a mais alta jurisdição administrativa francesa, deu luz verde para a extradição após uma batalha judicial de oito anos.

Em imagem de 2014, Beatriz Cantarini de Abriata, mãe do estudante Hernan Abriata, desaparecido durante a ditadura argentina Foto: Daniel Garcia/AFP

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O Conselho de Estado francês considerou que o decreto de extradição, assinado pelo governo francês em 21 de agosto de 2018, é legal e Sandoval pode ter um “julgamento justo” no país latino-americano. 

A Argentina reivindica desde 2012 a extradição para que Sandoval possa responder à justiça pelo suposto sequestro e desaparecimento do estudante Hernán Abriata em outubro de 1976. Sandoval, de 66 anos e apelidado de “açougueiro”, exilou-se na França em 1983 e obteve a nacionalidade francesa em 1997. 

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Hernán Abriata, estudante de arquitetura, foi levado para a Escola de Mecânica da Marinha (Esma), um dos principais centros de tortura da ditadura argentina (1976-1983), de onde desapareceram cerca de 5 mil pessoas, muitas delas lançadas de aviões no Rio da Prata.

Embora a Argentina suspeite que Sandoval tenha participado de mais de 500 assassinatos, torturas e sequestros durante a ditadura militar, usou como base apenas no caso Abriata para solicitar extradição, porque há uma dúzia de testemunhos a respeito.

Galeria dos generais da ditadura argentina

Militares afirmavam que subversão era "genética" e queimavam livros. Crédito: TV Estadão | 27.12.2013

Na França, Sandoval tinha organizado uma nova vida, mas sem ocultar seu nome e sobrenome, somente seu passado. Chegou a ser conselheiro do ex-presidente francês Nicolás Sarkozy e também colaborou com grupos paramilitares colombianos.

Trabalhou como professor no Instituto de Altos Estudos de América Latina da Sorbonne Nouvelle e da Universidad de Marne-la-Vallé. Ninguém sabia que “o Sandoval da Coordenação Federal” era procurado até que os professores de Marne-la-Vallé o reconheceram em uma foto. / AFP

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