Ex-aliado do chavismo, juiz venezuelano foge do país

Christian Zerpa, ex-integrante do partido oficialista, afirma que tomou a decisão para não presenciar a posse do segundo mandato do presidente Nicolás Maduro

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Por Redação
Atualização:

CARACAS - Um juiz do Supremo Tribunal de Justiça (TSJ) da Venezueladesertou por não concordar com a posse de Nicolás Maduro para o segundo mandato presidencial (2019-2025) e fugiu para o exterior, informou neste domingo, 6, o tribunal. Christian Zerpa foi para os Estados Unidos e afirmou à imprensa venezuelana que mais magistrados podem desertar.

Nicolás Maduro discursa no TSJ, em fevereiro de 2018, e governo acusa juiz de fugir da Venezuela para se esquivar de uma investigação Foto: Marco Bello

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O TSJ acusa Zerpa de fugir da Venezuela para se esquivar de uma investigação por crimes sexuais. A mais alta corte do país tem seguido as decisões do Executivo e rejeitado medidas adotadas pelo Parlamento venezuelano, controlado pela oposição. 

Um dia depois de boatos sobre o rompimento de Zerpa com o governo Maduro e sua decisão de fugir para a Flórida com a família, o TSJ – de linha oficialista – anunciou em comunicado a investigação por “assédio sexual, atos lascivos e violência psicológica” contra funcionárias de seu escritório.

Segundo o tribunal, Zerpa era investigado formalmente desde o dia 23 de novembro do ano passsdo, mas as acusações não haviam sido divulgadas. O presidente do TSJ, Maikel Moreno, assegurou que diante de “repetidas queixas de conduta indecente e comportamento imoral”, as autoridades iniciaram uma ação judicial contra Zerpa. 

Moreno negou que a fuga do magistrado seja um sinal de divisões dentro da corte. “Longe de nos separar, esse fato nos une”. No sábado, jornalistas venezuelanos que moram nos EUA relataram a fuga de Zerpa para a Flórida. O TSJ não confirma o país de destino do magistrado que desertou.

Zerpa militou no oficialista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e é alvo de sanções financeiras do Canadá. Ele foi nomeado para o TSJ pela antiga maioria parlamentar governista em dezembro de 2015, alguns dias antes de a oposição assumir o controle da Câmara.

De acordo com a jornalista Carla Angola, que o entrevistou nos EUA, Zerpa está disposto a colaborar com o sistema de justiça americano nas investigações sobre corrupção e violações de direitos humanos contra funcionários públicos e colaboradores do governo Maduro.

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Na entrevista, o ex-chavista conta que foi nomeado de “forma rápida por ser (na ocasião) um dos leais (ao governo)”, mas não se sentia a vontade para continuar apoiando o regime Maduro. “Não podia continuar segurando isso, não quero que Maduro seja juramentado.”

O ex-deputado do PSUV explicou ainda que dentro do TSJ há uma preocupação com o que pode acontecer nos próximos dias e um temor de mais violência no país.

O presidente Maduro toma posse para o segundo mandato na quinta-feira, mas no sábado o Parlamento de maioria opositora retomou suas funções e afirmou que não reconhecerá a presidência de Maduro. “Reafirmamos a ilegitimidade de Nicolás Maduro. A partir de 10 de janeiro, ele estará usurpando a Presidência e, consequentemente, esta Assembleia Nacional é a única representação legítima do povo", disse o novo presidente do Legislativo, o opositor Juan Guaidó.

Maduro venceu as eleições presidenciais no dia 20 de maio do ano passado, mas a oposição, denunciando fraudes, boicotou a votação. Por esse motivo, EUA, União Europeia e vários países da América Latina desconheceram o resultado eleitoral.

Zerpa contou à jornalista Carla que era convocado, junto com outros magistrados, ao Palácio de Miraflores sempre que o Executivo precisava de alguma sentença favorável. “Ninguém me disse que as sentenças que eu assinava precisavam favorecer o regime, eles simplesmente supunham que seria assim porque eu sempre fui disciplinado no partido”.

Questionado sobre a extensão das acusações de corrupção contra o governo Maduro, entre elas casos envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht, Zerpa afirmou que não tinha conhecimento sobre as práticas da cúpula chavista. / AFP 

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