Ex-alunos de instituto italiano pedem expulsão de padres acusados de abusos

Sacerdotes são acusados de cometer abusos contra deficientes auditivos em instituição.

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Por Assimina Vlahou
Atualização:

Ex-alunos de um instituto de assistência a deficientes auditivos da cidade de Verona, norte da Itália, que teriam sido vítimas de supostos abusos sexuais cometidos por sacerdotes funcionários da entidade, pediram ao Vaticano a expulsão dos religiosos envolvidos que ainda trabalham na instituição. Segundo a associação dos ex-alunos do Instituto Provolo, dos 28 padres que prestavam serviço no instituto entre 1950 e 1984, 25 teriam cometido abusos sexuais contra 67 crianças surdas de 6 a 13 anos de idade. "As crianças que foram vítimas, naturalmente, não podiam se expressar, explicar o que estava acontecendo e denunciar os abusos que sofreram até em locais sagrados, como os confessionários ou atrás dos altares", disse à BBC Brasil Marco Lodi Rizzini, porta-voz da associação. Atualmente, sete destes religiosos acusados ainda trabalham no instituto, e a associação pede que eles sejam expulsos. "Queremos que seja feita justiça porque há pessoas que carregam o peso das consequências de graves abusos cometidos por muitos anos. Se não forem expulsos, que sejam impedidos de se aproximar de menores", disse Rizzini. Embora os supostos abusos tenham ocorrido entre 1950 e 1984, segundo a associação, eles só foram divulgados em janeiro de 2009, depois de o grupo ter tentado por três anos que a Cúria de Verona investigasse o caso e punisse os culpados. No ano passado, a associação documentou, por escrito e em vídeo, os depoimentos detalhados de quinze das vítimas, que atualmente têm entre 40 e 70 anos de idade. Parte do material foi publicada por uma revista semanal italiana. Abusos O caso voltou à imprensa italiana na semana passada, após a notícia, divulgada pelo jornal The New York Times, de abusos semelhantes cometidos pelo sacerdote Lawrence Murphy, no Estado de Wisconsin, nos Estados Unidos. O porta-voz da associação dos ex-alunos do Instituto Provolo disse que o Vaticano havia sido informado a respeito dos abusos em Verona há um ano e meio, mas que somente agora, diante da repercussão dos escândalos envolvendo sacerdotes nos Estados Unidos, Irlanda e Alemanha, teria se manifestado a respeito. A Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano confirmou ter recebido informações sobre o caso. Em carta enviada à Cúria de Verona em fevereiro passado, o órgão do Vaticano que cuida das questões disciplinares da Igreja Católica afirma que o material recebido esta sendo examinado, mas que é incompleto. Outros casos Segundo Rizzini, que convocou um encontro nacional de vítimas de abusos de sacerdotes para setembro, é difícil reunir denúncias desse tipo na Itália. "A pressão do Vaticano, que tem sede na Itália, é muito grande", disse ele. "Esta é uma anomalia italiana. Há processos envolvendo sacerdotes em 30 cidades da Itália, há 10 ou 20 anos, mas não se fala disso", declarou à BBC Brasil Roberto Mirabile, da associação Caramella Buona, que luta contra a pedofilia. Um dos casos que a Caramella Buona acompanha envolve um sacerdote de Roma, Ruggero Conti, que está em prisão domiciliar, acusado de ter abusado sexualmente de ao menos sete jovens. O sacerdote foi preso em 2008, depois que as vítimas fizeram denúncias à policia. Os superiores do clérigo, informados sobre os abusos, não haviam tomado nenhuma providência, segundo Mirabile. Novas frentes estão se abrindo na Itália, depois que países como Alemanha, Irlanda e Áustria passaram a incentivar as vítimas a denunciar casos de abusos. A Diocese de Bolzano, no norte do país, próximo à Áustria, adotou medidas semelhantes e pediu que os fiéis denunciem casos no site da cúria. "Os escândalos das últimas semanas e a divulgação da iniciativa estimulou as pessoas a procurarem o site", disse à BBC Brasil Martin Pezzei, porta-voz da Diocese de Bolzano. Embora admita que o número de denúncias aumentou nos últimos dias, a diocese não quis divulgar o número de casos registrados. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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