Ex-chanceler paraguaio diz que houve negociação paralela em acordo de Itaipu

Castiglioni prestou depoimento ao Ministério Público do Paraguai sobre o caso

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Por Redação
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ASSUNÇÃO - Um dos pivos da crise sobre o acordo firmado com o Brasil para a compra da energia produzida na usina de Itaipu, o ex-ministro das Relações Exteriores do Paraguai Luis Alberto Castiglioni disse nesta terça-feira, após prestar depoimento ao Ministério Público do país sobre o caso, que houve uma negociação paralela sobre os termos da polêmica ata que pode provocar o impeachment do presidente Mario Abdo Benítez.

Partidários saúdam o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez Foto: EFE/Martin Crespo

Castiglioni foi ouvido pelos promotores reponsáveis por investigar o acordo durante cinco horas. Antes de renunciar ao cargo no Ministério de Relações Exteriores para tentar diminuir a pressão política sobre Abdo Benítez, o ex-chanceler era o líder da equipe paraguaia nas negociações com o Brasil, mas hoje sugeriu que havia conversas paralelas sobre o pacto. "Posso ver claramente que houve uma negociação paralela, sem dúvida alguma", disse Castigloni a jornalistas depois do depoimento. O ex-ministro negou saber da existência de uma polêmica cláusula que permitia ao Paraguai vender energia para empresas brasileiras e que foi retirada do acordo por pressão do advogado José Rodríguez González, que dizia ser representante do vice-presidente do país, Hugo Velázquez. Castigloni também afirmou que soube pela imprensa das reuniões entre Abdo Benítez, Velázquez, o ministro da Fazenda, Benigno López, e o então presidente da Administração Nacional de Eletricidade (Ande), Pedro Ferreira, para discutir o acordo com o Brasil. O ex-chanceler também culpou pela falta de informações o ex-embaixador do Paraguai no Brasil Hugo Saguier. Segundo Castiglioni, ele chamou o diplomata depois de os dois terem renunciado para pedir explicações sobre as notícias envolvendo o acordo que têm sido divulgadas pela imprensa paraguaia. "Saguier me relatou que tomou conhecimento do tema (da cláusula) no dia 23 de maio às 18h30, estando em Brasília, por meio de uma mensagem de WhatsApp que o então presidente da Ande, Pedro Ferreira, havia enviado a ele. Me respondeu que ele não deu a esse tema à devida importância, porque isso faria parte da reforma do Tratado de Itaipu", afirmou o ex-chanceler a jornalistas. O então ministro disse que deu três diretrizes a Saguier nas negociações: recusar qualquer aumento das tarifas para o Paraguai, manter para o país o privilégio de contratar potência excedente de usina e atuar com rigor já visando a renegociação do anexo C do Tratado de Itaipu, que terá que ocorrer até 2023. Castiglioni aproveitou a entrevista para fazer uma "autocrítica" e reconhecer que houve uma "comunicação péssima" por parte do governo de Abdo Benítez. Os promotores que ouviram o ex-chanceler disseram que ele entregou vários documentos anteriores à assinatura do acordo com o Brasil. O depoimento de Castiglioni foi considerado por eles como "extremamente esclarecedor". Uma das promotoras responsáveis pelo caso, Liliana Alcaraz, informou que o ex-ministro também entregou ao Ministério Público dois celulares para que os investigadores possam ter acesso às conversas entre ele e Pedro Ferreira. "Ele (Castiglioni) reconheceu como autênticas (as mensagens de Ferreira). Não há diferença, elas batem", disse Alcaraz. O Ministério Público antecipou que quer ouvir o embaixador Hugo Saguier, mas não ainda não marcou uma data para o depoimento do diplomata. Abdo Benítez e Velázquez conversaram com os promotores no domingo e ontem, respectivamente. O presidente e o vice entregaram ao Ministério Público os celulares que usavam para conversar pelo WhatsApp com os envolvidos nas negociações. Os investigadores consideram que as mensagens serão um elemento-chave para esclarecer o que de fato ocorreu. O acordo foi considerado como lesivo aos interesses do país pela oposição, que protolocou um pedido de impeachment contra Abdo Benítez e Velázquez. No entanto, faltam aos opositores os votos necessários para que o processo avance na Câmara dos Deputados. / EFE

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