Delação de assessor e prisão de chefe de campanha atingem governo Trump

Investigação sobre influência russa na eleição americana encontra pela primeira vez ligação direta entre membro da campanha do republicano e pessoas próximas de Putin; coordenador da candidatura do americano é colocado em prisão domiciliar

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

WASHINGTON - Integrante do time de assessores de política externa da candidatura de Donald Trump, George Papadopoulos descreveu em delação premiada inúmeros contatos com russos na eleição de 2016. A informação foi revelada nesta segunda-feira, 30, pouco depois de Paul Manafort, ex-chefe da campanha de Trump, alegar inocência após ser denunciado e acusado de 12 crimes, entre os quais conspiração contra os EUA e lavagem de dinheiro. Ele está em prisão domiciliar.

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A colaboração de Papadopoulos é a primeira ligação direta entre um membro da campanha do republicano e pessoas próximas do governo de Vladimir Putin. A delação e a denúncia contra Manafort e seu sócio, Richard Gates, são os primeiros resultados concretos da investigação sobre a suspeita de interferência da Rússia na eleição e a potencial conspiração com a campanha de Trump para prejudicar a democrata Hillary Clinton.

Ex-coordenador da campanha de Donald Trump, Paul Manafort é o primeiro indiciado na investigação sobre interferência da Rússia na eleição americana de 2016 Foto: REUTERS/Carlo Allegri

Entre as conversas descritas por Papadopoulos, está a oferta russa de e-mails comprometedores contra a adversária de Trump. A delação premiada poderá dar munição a Mueller para ampliar as acusações contra Manafort. Em sua confissão, Papadopoulos apresentou e-mails que enviou ao “supervisor da campanha” de Trump. Fontes disseram à CNN que ele era Manafort. 

O ex-coordenador da campanha e seu sócio se declararam inocentes ontem e foram colocados em prisão domiciliar por uma juíza federal de Washington. As fianças de ambos foram fixadas em US$ 10 milhões e US$ 5 milhões, respectivamente. A denúncia contra Manafort e Gates não faz nenhuma referência à Rússia ou à campanha de Trump. As acusações se concentram na atuação de ambos como consultores do ex-presidente da Ucrânia Victor Yanukovych, aliado de Moscou derrubado em uma rebelião popular em 2014. 

Manafort passou a integrar o time de Trump em março do ano passado, com a missão de organizar a estratégia do candidato para a convenção do Partido Republicano. Em junho, ele foi promovido a coordenador da campanha. Durante a convenção, em julho de 2016, ele atuou para modificar a plataforma do partido e excluir declarações de apoio ao atual governo da Ucrânia, que se opõe à Rússia. A permanência na campanha se tornou insustentável em agosto, com a revelação de que ele não havia declarado ao Departamento de Justiça sua atuação como lobista de governo estrangeiro.

Co-diretor do Centro de Justiça Criminal da Universidade de Stanford, o professor Robert Weisberg acredita que a delação premiada de Papadopoulos pode ser mais relevante que a denúncia contra Manafort e Gates. “Ele pode saber muito sobre quem na campanha se engajou em contatos ou tinha conhecimento de contatos com os russos.” Papadopoulos concordou em colaborar com as investigações depois que ficou comprovado que ele mentiu sobre seus contatos com os russos em depoimento ao FBI. O crime é punido com até 5 anos de prisão, além de multa.

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No dia 31 de março de 2016, Papadopoulos participou de um encontro de vários assessores de política externa com o próprio Trump, no qual disse que tinha contatos que poderiam ajudar a organizar um encontro entre o então candidato e Putin. No dia 22 de abril, ele enviou e-mail ao supervisor da campanha com a mensagem: “O governo russo tem um convite em aberto de Putin para o sr. Trump para encontrá-lo quando ele estiver pronto”. A suspeita inviabilizou a possibilidade de reunião entre ambos.

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, disse ontem que a denúncia contra Manafort não tem relação com o presidente ou atividades de sua campanha eleitoral. O advogado de Manafort, Kevin Downing, classificou de “ridículas” as acusações contra seu cliente. Sarah também minimizou a delação de Papadopoulos e afirmou que ele era um assessor “voluntário”.

Durante a manhã, Trump havia respondido no Twitter à denúncia apresentada contra Manafort. “Desculpem, mas isso aconteceu há anos, antes de Paul Manafort fazer parte da campanha de Trump. Mas por que a vigarista Hillary & os democratas não são o foco?????”, escreveu o presidente na rede social. “…Além disso, NÃO HOUVE CONSPIRAÇÃO!”