Ex-combatente da guerra das Malvinas reencontra piloto que pensou ter matado

Britânico identificou argentino por causa de entrevista em programa de TV

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BUENOS AIRES - Quase 30 anos após o fim da guerra entre Argentina e Grã-Bretanha pelas ilhas Malvinas (Falklands para os britânicos), dois veteranos que lutaram em lados opostos viveram um encontro emocionante. O ex-piloto de caça-bombardeiro da Força Aérea Argentina, Mariano Velasco, de 62 anos, recebeu em sua casa na província de Córdoba o britânico Neil Wilkinson. Na guerra, Wilkinson atirou e derrubou o avião pilotado por Velasco, no Estreito de São Carlos, no arquipélago no Atlântico Sul. O piloto argentino, que na época da guerra tinha 32 anos, sobreviveu ao pular de páraquedas poucos minutos após o bombardeio. "Wilkinson sempre achou que eu tivesse morrido depois de alvejar o avião que eu pilotava", disse Velasco à BBC Brasil. Programa de TV Em 2007, o britânico assistiu na televisão a um especial sobre a guerra e viu quando Velasco narrou onde estava quando o tiro atingiu seu avião, na batalha. Ao ouvir a história, percebeu que aquele era o piloto do avião que ele tinha atingido. "Quando ele me reconheceu, procurou a Embaixada da Argentina em Londres e pediu ajuda para me localizar. Começamos uma amizade por redes sociais, como Facebook, até que ele veio à minha casa", lembrou. O encontro ocorreu no fim do ano passado, mas só agora foi divulgado. "Eu o esperei na porta de casa e meu coração estava acelerado. Quando nos vimos, nos abraçamos e choramos, choramos muito. Wilkinson tremia de emoção por ter certeza de que eu estava vivo", recordou. Velasco disse que jamais sentiu ódio pelo britânico. "Fomos apenas peças de circunstâncias", disse. 'Emoção' Na ocasião, o inglês disse que a emoção do encontro "foi muito grande para poder explicar, mas agora tenho certeza de que ele está vivo." Wilkinson era artilheiro antiaéreo no barco de combate HMS Intrepid quando abriu fogo contra o avião de combate Skyhawk, pilotado por Velasco. Ele disse que a imagem do avião caindo o acompanhou durante toda a sua vida. "Jamais imaginei que ele pudesse ter sobrevivido", disse. Dois dias antes de ter o avião derrubado, o argentino tinha participado do ataque a um barco que deixou 19 britânicos mortos. Churrasco O encontro entre os ex-combatentes foi na casa do ex-piloto argentino, na localidade de Villa de Las Rosas, na província de Córdoba, onde compartilharam um churrasco. "Hoje, somos amigos. Nos falamos com certa frequência por e-mail, Facebook ou Skype", contou. Velasco recordou que o ataque contra o avião que pilotava ocorreu no dia 27 de maio de 1982, cerca de 50 dias após tropas argentinas invadirem as ilhas, no dia 2 de abril daquele ano. "Eu machuquei meu tornozelo mas pude me arrastar e caminhar dois dias até uma casa abandonada, onde fiquei do dia 29 ao dia 31 de maio, até que passaram moradores locais, a cavalo, e disseram que avisariam a força aérea argentina. No dia seguinte, me buscaram e me levaram de ambulância. No dia seis de junho me levaram de volta ao continente (argentino)", afirmou. O militar argentino da reserva disse ainda que, para ele, as ilhas são argentinas porque assim foi confirmado desde que a Argentina deixou de ser colônia espanhola. "Não temos ódio contra os britânicos. Somos apenas contra a usurpação das ilhas porque elas são argentinas. Mas sabemos que vai depender da diplomacia para que elas voltem a ser do nosso país", afirmou.

 

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