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Ex-ditador da Etiópia é condenado por genocídio

Mengistu Haile Mariam está exilado no Zimbábue desde 1992 e foi condenado sem sua presença depois de um julgamento de 12 anos. A sentença sairá dia 28

Por Agencia Estado
Atualização:

O ex-ditador etíope Mengistu Haile Mariam, que dirigiu o "Terror Vermelho" contra supostos inimigos de seu regime apoiado pelos soviéticos, foi condenado nesta terça-feira, 12, num raro caso de um poderoso africano ser chamado pelo seu próprio país para prestar contas de seus atos. A sentença será decretada dia 28 de dezembro. Mengistu está exilado no Zimbábue desde 1992 e foi condenado sem sua presença depois de um julgamento de 12 anos. Ele pode enfrentar a pena de morte, mas o presidente do zimbabuano, Robert Mugabe, disse que não vai deportar Mengistu se ele se recusar a fazer depoimentos políticos ou comentários à imprensa. O tribunal se focou no alegado envolvimento de Mengistu na matança de cerca de 2.000 pessoas durante uma campanha militar entre 1977-78 conhecida como Terror Vermelho. Uma banca de juízes, sentadas perante um lotado tribunal, o condenaram por instigar o genocídio, aprisionamento ilegal e abuso de poder. Mengistu, às vezes chamado de "o açougueiro de Addis Ababa", governou de 1974 a 1991 depois que sua junta militar terminou com o reinador do imperador Haile Selassie em um sangrento golpe. Alguns especialistas dizem que cerca de 150 mil estudantes, intelectuais e políticos foram mortos pelo regime comunista de Mengistu, embora nenhum número possa ser confirmado realmente. Ele foi julgado junto com 72 de seus ex-aliados, embora houvesse apenas 34 pessoas na corte terça-feira. Quatorze morreram durante o julgamento e 26 foram julgados em ausência. Todos, exceto um, foram condenados por pelo menos uma acusação. Fim do regime Quando deposto em 1991 por rebeldes liderados por Meles Zenawi, agora o primeiro-ministro etíope, o ex-ditador fugiu para o regime autoritário de Mugabe, no Zimbábue, onde o exército de Mengistu havia ajudado a treinar guerrilheiros na luta de independência contra o poder dos brancos. O asilo político teve respaldo dos EUA e do Canadá para acabar com a guerra civil na Etiópia o mais rápido possível. Mengistu foi visto em público, ao que se sabe, somente duas vezes desde 1992: uma vez em um restaurante e outra andando por uma livraria. Em 1998, ele disse à Associated Press por telefone, em uma rara entrevista, que eles era uma "refugiado político" que passou a maior parte de seu tempo "em casa, lendo e escrevendo algo sobre meu país". Os tribunais etíopes condenaram 1.018 pessoas desde 1994 por participarem do Terror Vermelho, mas 6.426 esperam julgamento e mais de 3.000 delas, como Mengistu, vivem no exílio.

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