Ex-guarda nazista de 93 anos é condenado em um dos últimos julgamentos do Holocausto

Réu foi condenado como cúmplice de 5.230 assassinatos enquanto estava no campo de Stutthof - ele foi julgado em um tribunal juvenil porque tinha 17 anos na época

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Por Redação
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BERLIM - Um tribunal alemão condenou um homem de 93 anos nesta quinta-feira, 23, por ajudar os nazistas a matarem milhares de pessoas enquanto trabalhava como guarda em um campo de concentração há mais de 75 anos na Polônia. O julgamento pode ser um dos últimos a serem proferidos contra um participante vivo do Holocausto.

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O tribunal estadual de Hamburgo considerou Bruno Dey cúmplice de 5.230 assassinatos - número de pessoas que acredita-se que tenham morrido campo de concentração de Stutthof. Dey atuou como guarda de agosto de 1944 até abril de 1945. Ele chegou ao tribunal estadual de Hamburgo sentado em uma cadeira de rodas e usando uma máscara cirúrgica azul por causa do surto de coronavírus. Durante a maior parte do julgamento, colocou uma pasta na frente do rosto para evitar ser identificado nas fotografias. 

Ele foi julgado em um tribunal juvenil por ter apenas 17 anos de idade na época do caso e recebeu uma sentença suspensa de dois anos - ele não precisará ir para uma penitenciária. A avaliação dos promotores levou em conta a idade e a vontade de cooperar com as autoridades.

Mas os sobreviventes e aqueles que os representam criticaram a sentença. "É insatisfatório e tarde demais", disse Christoph Heubner, do Comitê Internacional de Auschwitz, que acompanhou o julgamento. "O que é tão perturbador para os sobreviventes é que esse réu não usou os muitos anos do pós-guerra de sua vida para refletir sobre o que viu e ouviu".

Bruno Dey, de 93 anos, foi guarda em campo nazista entre 1944 e 1945. A Justiça alemã pediuque o rosto dele fosse borrado das fotografias. Foto: EFE/EPA/DANIEL BOCKWOLDT

O julgamento contra Dey foi o mais recente em um esforço dos promotores no escritório especial para lidar com crimes da era nazista antes que seja tarde demais. Ele ocoreu em um momento em que o país luta para lidar com o ressurgimento do extremismo de direita.

Em uma declaração final, Dey disse que achava importante expressar seus pensamentos e sentimentos sobre o julgamento, que ele havia inicialmente dito que havia interrompido os últimos anos de sua vida. "O testemunho e as avaliações de especialistas me fizeram perceber o alcance total dos horrores e sofrimentos", disse ao tribunal. “Hoje gostaria de me desculpar por quem passou por essa loucura e a seus familiares. Algo assim nunca deve acontecer novamente". 

As autoridades alemãs intensificaram seus esforços nos últimos anos para responsabilizar homens e mulheres, a maioria agora com mais de 90 anos, que tiveram papel em ajudar os nazistas a prender e assassinar judeus da Europa. Durante a Guerra Fria, essas pessoas foram negligenciadas por um sistema de justiça que exigia evidências de envolvimento direto em um crime da era nazista.

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À medida que os sobreviventes envelheciam, a Alemanha reunificada começou a enfatizar a importância de relembrar os casos e também sua reparação, dando um lugar de destaque a um memorial do Holocausto no coração de Berlim e estabelecendo fundos de milhões de euros para compensar vítimas há muito negligenciadas.  

Nas últimas décadas, os tribunais também mudaram de perspectiva, seguindo decisões importantes em 2011 e 2015 que estabeleceram que indivíduos que desempenhavam papéis de apoio em crimes nazistas poderiam ser condenados sob a acusação de associação com as atrocidades praticadas. Na semana passada, outro ex-guarda de Stutthof, de 95 anos, foi acusado de crimes semelhantes. / NYT 

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