PUBLICIDADE

Ex-líder do grupo terrorista Exército Vermelho é libertada

Guerrilha de Brigitte Mohnhaupt, que passou 24 anos na prisão, colocou contra a parede o governo do então chanceler social-democrata Helmut Schmidt

Por Agencia Estado
Atualização:

A ex-líder da extinta Facção do Exército Vermelho (RAF, conhecida também como Baader-Meinhof) Brigitte Mohnhaupt foi libertada na madrugada deste domingo, depois de mais de 24 anos numa prisão alemã e à espera da resolução dos casos dos três últimos ex-membros da organização terrorista ainda presos. Brigitte, de 57 anos, foi a organizadora dos atentados da fase mais violenta da RAF, o chamado outono alemão de 1977. A ex-líder abandonou a prisão de Aichach, na Baviera, entre 2h e 3h (hora local), segundo um porta-voz do Ministério da Justiça bávaro, que não esclareceu o destino imediato da ex-terrorista. Segundo a última edição da revista alemã Focus, Brigitte deve ficar na cidade de Karlsruhe e trabalhar em uma oficina de peças de automóvel, de propriedade do filho de uma amiga. A libertação de Brigitte era considerada iminente, mas não havia uma data clara para que se tornasse efetiva, já que podia ser feita nos dois dias antes ou depois de terça-feira, data oficialmente marcada para a ocasião. A Audiência Provincial de Stuttgart determinou, em fevereiro, a libertação de Brigitte, depois de atenuar parte de uma pena de cinco prisões perpétuas e mais 15 anos de cárcere. O mesmo tribunal que condenou Brigitte em 1985 tomou a decisão com base em uma sentença do Supremo de 15 anos atrás, segundo a qual toda pessoa, e mesmo os condenados à prisão perpétua, tem direito à perspectiva de uma vida em liberdade. Brigitte pertenceu à cúpula da RAF - o grupo fundado por Andreas Baader e Ulrike Meinhof - entre 1977 e 1982, ano em que foi presa. Ela participou das ações que levaram à morte do banqueiro Jürgen Ponto, do procurador federal Siegfried Bubak, assim como do seqüestro e assassinato do industrial Hanns-Martin Schleyer, todos no outono de 1977. Brigitte era, até hoje, uma dos quatro últimos membros da RAF que continuavam presos e condenados à prisão perpétua, junto com Christian Klar, de 54 anos, Eva Sybille Haule, de 52, e Birgit Hogefeld, de 50. Nas últimas semanas, após a decisão do tribunal de Stuttgart, falava-se de uma possível libertação dos demais ex-membros da RAF, organização que desapareceu em 1998, por meio de um lacônico comunicado. Assim que se anunciou que Brigitte seria solta, surgiram críticas dos parentes de suas vítimas, que lembraram que nem ela nem os outros ex-terroristas pediram perdão pelos crimes cometidos. A segunda geração da organização terrorista, que surgiu enquanto Meinhof, Baader e sua companheira Gudrun Ensslin estavam na prisão, foi responsável pelo período mais sangrento da RAF. A libertação de Brigitte agora e, eventualmente, a de seus antigos companheiros coincidiria com o 30º aniversário do outono alemão de 1977, um dos capítulos mais negros na história da organização terrorista, que colocou contra a parede o governo do então chanceler social-democrata Helmut Schmidt. O industrial Schleyer foi assassinado com três disparos na nuca, depois que um comando de elite da polícia alemã pôs fim ao seqüestro de um avião da Lufthansa na Somália, e depois que Baader, Ensslin e um terceiro membro da primeira geração, Jan-Carl Raspe, apareceram mortos em suas celas na prisão de alta segurança de Stammheim. A libertação de Brigitte foi decidida, de acordo com o procedimento habitual, depois de se considerar que a ex-terrorista não representa perigo algum para a sociedade, e apesar das queixas dos parentes das vítimas, que lembraram que nunca houve uma renúncia explícita à violência nem um pronunciamento claro de arrependimento. Mais complexo ainda é o caso de seu companheiro de geração na RAF, Klar, que está há mais de 24 anos na prisão, devido à revolta gerada por recentes declarações suas, em mensagem dirigida a uma conferência do jornal marxista Junge Welt. Na mensagem, Klar manifestou sua esperança de que sejam concluídos os "planos de derrotar o capital e se abram as portas para um futuro diferente", questão que suscitou protestos contra uma possível libertação ou um indulto. A Focus apontou, ao informar sobre o provável destino de Brigitte, que a mãe de Klar também está em Karlsruhe, e que, no caso de o ex-terrorista ser libertado, seria ordenado a manter distância e não fazer contato. Este texto foi ampliado às 11h46.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.