CARACAS - O general Manuel Ricardo Cristopher Figuera, ex-militar chavista que agora vive exilado nos EUA, admitiu pela primeira vez a prática de tortura de opositores na Venezuela dentro da Direção-Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM) quando ele era o subdiretor.
Figuera, que também foi diretor do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), disse em entrevista à jornalista venezuelana Luz Mely Reyes, realizada pelo Skype e transmitida via Twitter em seu programa #ConLaLuz, que o próprio Nicolás Maduro dava as ordens. Mas ele insistiu que não as recebia diretamente do presidente, nem as executava.
Segundo análise do site Infobae de outras entrevistas concedidas pelo general ao longo de 2019, Figuera sempre alegou que havia tortura na Sebin até ele chegar ao comando, mas não depois. E, segundo suas respostas, ele não permitiu tal prática no DGCIM quando passou a ser o subdiretor. Essa foi a primeira vez que admitiu que havia tortura sob seu comando.
Em uma das entrevistas, disse que chegou a reclamar com superiores sobre o que estavam fazendo ao piloto e ex-policial rebelde Óscar Pérez no dia em que foi assassinado. Protagonista de ações contra o governo Maduro, Pérez e seis parceiros foram mortos em um cerco e operação das forças de segurança.
ONGs dos direitos humanos denunciaram que militares de diferentes patentes e civis acusados de colaborar com Pérez foram torturados, em sua maioria, por agentes da DGCIM.
A Infobae destaca que Figuera tem sido extremamente cuidadoso ao falar da influência ou treinamento de Cuba para as práticas de tortura na Venezuela. O site especula que isso possa estar ligado ao fato de um de seus filhos estar em Cuba e outro, na Rússia, como ele informou em entrevista à jornalista venezuelana Patricia Poleo.
Ele disse ter indagado o então diretor da DGCIM, general Iván Hernéndez Dala, porque estavam fazendo as coisas daquela maneira. “Ele me disse que aquela foi uma ordem dada pelo comandante (Maduro).”
Em junho, a Contrainteligência Militar venezuelana voltou ao noticiário após a morte do capitão de corveta Rafael Acosta Arévalo, detido pelo órgão por fazer parte do levante militar para derrubar Maduro realizado em abril, e fracassado. Figuera também fez parte do movimento, e por isso acabou saindo do país. Ao ser levado a um tribunal militar dias antes de morrer, Arévalo não conseguia andar e mal conseguia falar, apresentando sinais de tortura.