Ex-ministros são os principais rivais de Karzai no Afeganistão

Segundo turno deve ser disputado com o médico oftalmologista e ex-chanceler Abdullah Abdullah

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Atualização:

Quarenta e um candidatos concorrem nas eleições presidenciais no Afeganistão, marcadas para a próxima quinta-feira, 20 de agosto. Os perfis dos presidenciáveis variam bastante. Há desde desconhecidos, passando por simpatizantes do Taleban, até comunistas. Porém, os principais rivais do atual presidente, Hamid Karzai, são seus ex-ministros.

 

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Abdullah Abdullah

 

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O médico oftalmologista Abdullah Abdullah se tornou o principal rival de Karzai nas eleições e pode levar a disputa para o segundo turno. Ele foi o ministro das Relações Internacionais no governo Karzai até 2006 e um dos maiores nomes da resistência às forças da União Soviética no Afeganistão, entre 1979 e 1989.

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Abdullah é visto como favorito entre os tajiques, que dominam o norte do país e formam cerca de um quarto da população afegã. O combate à corrupção está entre suas promessas de campanha, assim como derrotar a insurgência com o apoio das tropas internacionais. O ex-chanceler de Karzai promete negociar com o Taleban caso o grupo abandone as armas.

 

Nascido em 1960, casado e pai de três filhas e um filho, o médico construiu sua reputação durante as três décadas de guerra no país como braço direito do "herói nacional" Ahmad Shah Masud, famosos resistente contra a ocupação soviética e o regime taleban, assassinado em 9 de setembro de 2001.

 

Abdullah costuma ressaltar a "desconexão" entre o governo de Karzai e a população afegã, que acaba fazendo parte da insurgência por conta da realidade de corrupção e violência no país. Ele denuncia o estado deplorável de um país que desperdiça grandes oportunidades após a queda do Taleban, quando começaram a entrar os milhões de dólares da ajuda internacional "A segurança se deteriora, a situação política é caótica, os problemas da população não são tratados como deveriam", afirmou à AFP em recente entrevista.

 

O ex-chanceler propõe a mudança da Constituição afegã para modificar o sistema político atual, extremamente centralizado, para o sistema parlamentar, criando os cargos de primeiro-ministro e dirigentes das províncias, que representariam melhor a população. Segundo as recentes pesquisas, Abdullah ocupa o segundo lugar nas intenções de voto com 26%, contra 44% de Karzai, o que levaria a disputa para um segundo turno.

 

Ashraf Ghani Ahmadzai

 

Candidato independente, Ghani, de 60 anos, foi conselheiro especial do ex-enviado especial da ONU para o Afeganistão, Lakhdar Brahimi, e o ministro das Finanças entre 2002 e 2004, antes de ocupar a posição de reitor da Universidade de Cabul. Ele é um acadêmico da área de antropologia. De etnia patã, Ghani estudou nos Estados Unidos. Em sua lista das maiores ameaças ao Afeganistão constam a Al-Qaeda, a produção de ópio, o Taleban, más administrações e corrupção.

 

O economista não é um ex-chefe de guerra nem político de carreira, mas sim um ex-executivo do Banco Mundial e doutor pela Universidade de Columbia. Ghani, respeitado no mundo todo, não é favorito ao pleito, mas renunciou à cidadania americana para apresentar-se na disputa eleitoral e prometer aos afegãos "um novo começo". Ghani tem um programa para os próximos 20 anos para reativar a economia e tirar a juventude das guerras que devastaram o país durante três décadas. Ele aparece em quarto colocado nas pesquisas, com 6%.

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Ghani vai contra a estratégia dos EUA de militarizar todo o país e defende uma posição que combina "20% de força e 80% de política e desenvolvimento" para retroceder a miséria e a violência dos insurgentes. Ele ainda diz que é preciso construir um milhão de novas casas e um milhão de novos empregos. Segundo Ghani, o dinheiro não seria um problema para o Afeganistão, já que o país está "inundado por centenas de milhões de dólares" de ajuda internacional. A questão é a gestão desses fundos, 70% dos quais serão desperdiçados por problemas de corrupção e ineficácia.

 

Ramazan Bashardost

 

De etnia hazará, Bashardost é um parlamentar independente e ex-ministro do Planejamento que conta com certo apoio popular, por conta de seu discurso em defesa dos pobres. Quando não está em campanha, passa a maior parte do tempo vivendo em uma tenda perto do Parlamento. Seu estilo simples e sua retórica populista, criticando a corrupção do atual governo, fez com que ele subisse nas pesquisas. Na última sondagem, Bashardost aparecia em terceiro colocado nas intenções de voto.

 

Ele buscou refúgio no Irã em 1978 e se mudou depois para o Paquistão, antes de estudar diplomacia na França, onde viveu por 19 anos. Em 2004 ocupou por alguns meses a pasta do planejamento, mas se demitiu frente à incapacidade do governo de agir contra ONGs que seu ministério havia colocado na ilegalidade. Esta postura lhe rendeu popularidade em Cabul, e Bashardost foi eleito nas eleições parlamentares do ano seguinte.

 

Bashardost pertence a um grupo étnico minoritário no país, de maioria xiita, e transformado no maior alvo dos Taleban sunitas durante a ditadura. Sempre vestido de forma simples, ele critica a corrupção do governo e seus aliados estrangeiros e os "criminosos" senhores da guerra.

 

Os habitantes de Cabul conheceram os discursos teatrais de Bashardost há cinco anos. A principal questão levantada por ele é o destino dos milhões de dólares da ajuda internacional. Para "reduzir seus gastos", se instalou em uma tenda de 15 metros quadrados nos arredores do Parlamento, onde recebe qualquer eleitor que se apresenta no local.

 

Abdul Jabar Sabit

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Sabit já foi conselheiro do governo afegão para assuntos legais e tem fama de ter ligações com o ex-primeiro-ministro Gulbuddin Hekmatyar (1993-1994). Quando integrava o governo, ele tentou proibir a venda de álcool e ordenou operações policiais contra restaurantes e casas de prostituição chinesas de Cabul. Sabit afirmava estar engajado em uma guerra santa contra a corrupção. Seu relacionamento com Karzai foi afetado após Sabit ter sido acusado de chantagem. O governo o proibiu de viajar.

 

Mullah Rocketi

 

Seu nome pode ser traduzido como "destruidor de tanques", um apelido conquistado por causa de sua habilidade no uso de foguetes lançadores de granadas contra tanques soviéticos. Durante o governo do Taleban entre 1996 e 2001, Mullah Rocketi atuou na cidade de Jalalabad, perto do Paquistão. Suas posições contrárias à presença de árabes ou da Al-Qaeda no Afeganistão podem explicar porque ele nunca subiu na hierarquia taleban. Brevemente detido após a invasão americana, ele é atualmente parlamentar pela província de Zabul.

 

Mirwais Yasini

Um crítico aberto das políticas americanas no Afeganistão, Yasini é o presidente da câmara baixa do parlamento do país. Ele foi também um opositor do domínio soviético e do governo do Taleban. Após a queda do grupo em 2001, ele atuou como ministro das Finanças e como responsável pelo combate à produção de ópio.

 

Shahnawaz Tanai

 

O general Tanai foi o chefe do Exército durante a invasão soviética. Após uma tentativa de golpe contra o presidente Mohammad Najibullah (1987-1992), refugiou-se no Paquistão. Ele defende uma maior participação de membros da etnia patã, antigos líderes rebeldes e partidos religiosos no governo.

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Mulheres

 

Depois de anos de repressão de seus direitos, quando a milícia Taleban dominava a maior parte do país (1996-2001), as mulheres estão sendo representadas por duas candidatas que concorrem à Presidência do Afeganistão.

 

Uma das candidatas, Frozan Fana, teve que enfrentar críticas de conservadores islâmicos por usar fotos suas na campanha eleitoral. Fana diz que deseja criar mais empregos para mulheres. A outra candidata, Shahla Atta, também se diz uma defensora dos direitos das mulheres. Seu slogan de campanha foi "as mulheres representam metade da sociedade". Além delas, entre os mais de 3 mil candidatos a posições em conselhos regionais, 328 são mulheres.

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