LIMA - O ex-presidente do Peru Ollanta Humala rechaçou nesta sexta-feira, 17, ter recebido suborno em troca da concessão de obras à empreiteira Odebrecht, firma que reconheceu ter pago propinas milionárias a funcionários públicos e políticos no país.
"Não temos estas práticas", disse o ex-presidente à imprensa, depois de depor como testemunha em uma audiência programada pela Procuradoria-Geral do país. Os promotoresinvestigam supostas irregularidades na concessão das obras de construção de um gasoduto à empresa brasileira, durante a gestão de Humala.
Em 2008, quando o presidente era Alan García, foram iniciados os trâmites para a construção de um gasoduto no sul do país. A previsão inicial de custo era de US$ 1,3 bilhão. Em 2014, já no governo Humala, a concessão foi entregue a um consórcio integrado pela Odebrecht, a espanhola Enagas e a peruana Grana y Montero. O custo se elevou para US$ 7,0 bilhões.
Humala disse que "segundo as investigações do Ministério Público, não há nenhum prejuízo econômico ao Estado, porque o Estado não deu nenhum sol (moeda peruana) ao consórcio", pois se trata de um investimento privado.
Em 23 de janeiro, o atual governo de Pedro Pablo Kuczynski cancelou o contrato com o consórcio liderado pela Odebrecht, por incapacidade financeira. A obra, com apenas 30% de conclusão, voltará a ser concedida à iniciativa privada.
No Peru, a Odebrecht admitiu ter pago US$ 29 milhões em propinas no período entre 2005 e 2014, que compreende as gestões dos presidentes Alejandro Toledo, García e Humala. Destes, somente Toledo foi implicado diretamente no caso. Ele é buscado pela Justiça, acusado de receber US$ 20 milhões da construtora em troca da concessão de uma rodovia.
García também depôs como testemunha nas investigações.
Humala e sua esposa Nadine Heredia, que têm restrições em sair do país, estão sendo investigados por lavagem de dinheiro por supostamente financiar sua campanha eleitoral com dinheiro procedente da Venezuela e do Brasil.
Segundo documentos da Polícia Federal do Brasil, a Odebrecht entregou, via caixa dois, US$ 3 milhões à campanha de Humala em 2011. / EFE