Ex-presidentes do México criticam Trump e seu 'muro estúpido'

Vicente Fox e Felipe Calderón afirmam que insultos dos republicanos mostram nova e alarmante forma de racismo anti-mexicano; Joe Biden pede desculpas na capital mexicana

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CIDADE DO MÉXICO - Dois ex-presidentes do México disseram na quinta-feira, em entrevistas separadas, que a retórica xenófoba de Donald Trump e de outros pré-candidatos republicanos danificou as relações entre EUA e México e mudou a forma como muitos mexicanos veem os americanos. Vicente Fox e Felipe Calderón, que lideraram o país de 2000 a 2012, afirmaram que os insultos dos republicanos mostram uma nova e alarmante forma de racismo anti-mexicano. 

"Trump está afirmando essas coisas estúpidas, mas o problema é que 40% dos republicanos dizem: 'sim, você está certo'", criticou Fox, de 73 anos, ex-executivo da Coca-Cola que se identificava com o Partido Republicano. "Ele estão ouvindo seu profeta dizendo que os levará para a terra prometida, mas acabarão todos sendo guiados para o deserto e morrerão de fome e sede. Ele é um falso profeta."

Em evento no México, vice-presidente dos EUA, Joe Biden, pediu desculpas pelas ofensas de pré-candidatos republicanos Foto: AFP PHOTO/ Yuri CORTEZ

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Ao ser questionado sobre a proposta do magnata imobiliário de Nova York, que lidera as corrida republicana, de que o México pague pela construção de um muro separando os dois países, Fox disse bruscamente: "F***-**".

"Na minha opinião, o partido deveria exigir que ele respeitasse não só os mexicanos, mas também o papa Francisco e os muçulmanos. O Partido Republicano deixou essa situação ir longe demais. Está ridículo", disse Fox.

Outro ex-presidente mexicano, Calderón, cuja administração trabalhou em parceria com Washington, disse que a proposta de Trump é inútil porque não impedirá a imigração ilegal para os EUA, alimentaria o sentimento antiamericano e minaria as relações dois países.

"Boa colaboração entre governos é uma forma mais segura de proteger os EUA do que qualquer muro estúpido. Não pagaremos um único centavo para essa Idea estúpida. É uma proposta patética e Trump é um completo demagogo", disse Calderón.

O ex-presidente também destacou que nos últimos anos mais mexicanos estão voltando para o país do que entrando nos EUA. Segundo estudo recente do Pew Research Center, entre 2009 e 2014 cerca de 870 mil mexicanos tentaram entrar nos Estados Unidos enquanto que cerca de 1 milhão deles que viviam no país vizinho voltaram para casa.

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"Trump ignora esses números. E, qualquer um que ignore uma coisa tão importante é, sem dúvidas, uma pessoa ignorante", afirmou Calderón.

Desculpas. Na quinta-feira, o vice-presidente americano, Joe Biden, pediu desculpas ao México pela "retórica prejudicial" na campanha para definir os candidatos à presidência de seu país, que registrou falas contra os imigrantes mexicanos.

Houve muita "retórica prejudicial" e "quase sinto a obrigação de pedir desculpas por esta campanha presidencial", disse Biden na residência oficial de Los Pinos em mensagem à imprensa ao lado do líder mexicano, Enrique Peña Nieto.

Esta retórica "acalorada" de alguns candidatos à Casa Branca "não representa quem nós somos, o povo dos Estados Unidos. Não é a opinião da maioria das pessoas do meu país, é o oposto", garantiu.

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O vice-presidente americano destacou que a grande maioria dos americanos e dos mexicanos "passa quase o dia todo tentando ganhar a vida para dar de comer a seus filhos, pagar suas despesas e manter uma família".

México e EUA têm uma troca comercial de mais de US$ 1,5 bilhão ao dia e "seis milhões de trabalhadores americanos têm um trabalho" graças ao comércio com este país, apontou.

"Os Estados Unidos vendem mais ao México que ao Brasil, Rússia, Índia e China em conjunto" e 80% das exportações mexicanas vão para os EUA, afirmou Biden, que em um evento prévio qualificou de "perigoso" o discurso de vários pré-candidatos republicanos.

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"Somos uma nação de migrantes", afirmou o vice-presidente na inauguração na capital mexicana da terceira rodada do Diálogo Econômico de Alto Nível (DEAN) entre ambos países. / WPOST e EFE