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Ex-rei tenta formar frente unida contra o Taleban

Por Agencia Estado
Atualização:

As duas principais vertentes da oposição ao regime Taleban no Afeganistão, constituídas pela Aliança do Norte e Frente Unida, do comandante Ahmed Shah Massud, assassinado recentemente, e o ex-rei Mohamed Zahir Shah, que vive no exílio em Roma há mais de 30 anos, deveriam encontrar-se nesta segunda-feira, na capital italiana, revelou Abdullah Abdullah, chanceler da aliança. Abdullah também representa os grupos dos comandantes militares Abdul Rashid Dostum e Ismail Khan, além do general Faim, principal chefe militar após a morte do dirigente carismático. Segundo Abdullah, os ataques contra as forças do Taleban foram intensificados, pois a oposição está convencida de que não pode perder essa ocasião para liquidar o regime no qual se apóia Osama bin Laden. De acordo com Abdullah, após encontros na capital do Tadjiquistão, Dushanbe, com o chefe do Estado-Maior russo, o general Anatoli Kvachnin, além de enviados especiais do Ministério de Relações Exteriores da França, "criou-se uma oportunidade única para que se obtenha uma verdadeira paz no Afeganistão". O antigo rei afegão, atualmente com 86 anos, prepara-se para lançar um apelo solene aos chefes tradicionais do Afeganistão, imaginando restabelecer a legalidade no país. Nesses últimos dias, ele tem sido consultado por enviados americanos, europeus, mas também por chefes de tribos e comandantes militares de seu país. O rei Zahir, destituído em 1973 pelo seu primo, Mohamed Daud, já lançou um primeiro apelo, via BBC, na última sexta-feira afirmando que "historicamente, o Afeganistão sempre seguiu os princípios do Islã, com base na moderação e na tolerância, mas se opondo ao terrorismo, estranho à tradição afegã". O caminho, após consultar essas forças de oposição, seria a convocação de uma assembléia dos chefes de tribos, o que poderá ocorrer rapidamente, mas a possibilidade de restaurar a monarquia parece inteiramente afastada, segundo afirma seu próprio filho, Mustapha Zahir: "A questão da monarquia pertence ao passado. Vale mais a pena preocupar-se com os problemas catastróficos do presente e não com a eventual volta à monarquia." Na verdade, o ex-rei Zahir nunca revelou grande ambição em reinar, segundo ele mesmo afirmou desde que substituiu seu pai em 1933, assassinado frente a seus olhos. Essa assembléia teria a incumbência de designar um chefe de Estado e um governo provisórios, mas ambos com mandatos limitados. Uma comissão seria também designada por essa comissão para redigir uma nova Constituição que entraria em funcionamento no final do regime provisório. O plano para a criação de um governo provisório e a redação de uma nova Constituição, prevendo o fim do Taleban, deverá ser debatido em Roma, mas em princípio ele já conta com a aprovação da ONU e de grandes potências como os EUA, Japão, Rússia, e União Européia. Americanos, russos e europeus estão convencidos de que a melhor solução política para o país seria um governo de união criado a partir das forças de oposição. O problema que preocupa Abdullah é o papel que poderá ser destinado ao Paquistão, país que até agora apoiou o Taleban, mas se dispõe a apoiar a intervenção americana. A seu ver, "se os americanos se apoiarem no governo atual do Paquistão poderão cometer um grave erro, pois os membros dos serviços secretos paquistaneses são tão fanáticos quanto Bin Laden e o mulá (Mohammed) Omar". Segundo Abdullah, os paquistaneses utilizaram o terrorismo como instrumento de sua política externa na região, enquanto as forças do comandante Massud há seis anos estão em guerra contra o grupo Taleban e Bin Laden. Dessa forma, os três principais colaboradores do comandante Massud estão dispostos a continuar a luta do chefe assassinado e aceitam um compromisso político com o antigo rei Zahir Shah. A união dessas duas áreas da oposição deve constituir a principal carta ocidental, já se prevendo o fim do regime taleban.

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