Ex-torturador argentino disputa vaga de deputado

Preso, ex-delegado tem inscrição aceita

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Por Ariel Palacios e BUENOS AIRES
Atualização:

O juiz federal Manuel Blanco autorizou a candidatura a deputado federal pela Província de Buenos Aires do ex-subdelegado e ex-torturador Luis Abelardo Patti, que desde 2007 está em prisão preventiva na penitenciária de Marcos Paz pelo crime de violar direitos humanos cometidos durante a ditadura (1976-1983). Blanco rejeitou os pedidos de impugnação de Patti apresentados por organismos de defesa dos direitos humanos, que tentaram impedir que o ex-torturador fosse candidato nas eleições parlamentares de 28 de junho. Segundo o juiz, Patti, embora processado, não foi ainda condenado. Patti lançará a campanha amanhã no Teatro Broadway, em Buenos Aires. No entanto, por não poder sair da penitenciária, Patti discursará por meio de alto-falantes instalados no palco do teatro. Patti, proibido de usar celulares, recorrerá ao telefone público da prisão. O comício será encerrado pelo ex-presidente Carlos Menem (1989-1999). O ex-presidente Néstor Kirchner, candidato a deputado pelo governista Partido Peronista e a sublegenda Frente pela Vitória na Província de Buenos Aires, definiu ontem a habilitação de Patti como "uma barbaridade". "Se Patti for eleito deputado, obterá imunidade parlamentar e deixará a prisão", lamentou Manuel Gonçalvez, filho de Gastón Gonçalvez, uma das vítimas do ex-torturador. Patti é candidato pela "Aliança com Você, Buenos Aires" e o "Movimento pela Dignidade Nacional" (Modin, partido criado nos anos 90 pelo líder cara-pintada coronel Aldo Rico). Somados, os dois grupos, de extrema direita, têm um eleitorado que oscilou ao redor dos 5% nas últimas eleições. Em 1991, Menem pôs Patti no comando das investigações sobre o assassinato de María Soledad Morales, na província de Catamarca. Filhos de importantes políticos estavam envolvidos no caso, que teve repercussão nacional. Patti foi acusado de acobertar as pistas que vinculavam a elite de Catamarca - aliada de Menem - no caso. Em 1995, Patti foi eleito prefeito de Escobar, na Grande Buenos Aires, com 73% dos votos. Durante seu mandato impôs estrito controle sobre os civis, expulsou mendigos para outros municípios e proibiu que casais de namorados se beijassem em praça pública. Em 2005 foi eleito deputado, com 400 mil votos. Mas foi impedido de assumir. Os deputados impugnaram a posse por considerar que o passado de torturador não lhe proporcionava "idoneidade moral".

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