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Ex-vice não entrará na corrida presidencial

Para assessores, uma candidatura agora seria muito arriscada

Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

O Nobel da Paz reacendeu as esperanças de milhares de "goremaníacos" que clamam pela candidatura de Al Gore à presidência dos EUA. Mas tudo indica que o ex-vice-presidente vai mesmo ficar fora da campanha de 2008. Para assessores, uma candidatura neste momento seria muito arriscada: os eleitores estão razoavelmente satisfeitos com suas opções de candidatos e, a menos de três meses da primeira eleição primária, é muito tarde para começar a arrecadar recursos. "Gore está no ápice: ganhou o Oscar, o Nobel da Paz, é admirado no mundo inteiro. Para que concorrer à presidência agora e correr o risco de perder?", pergunta Joel Velasco, ex-assessor especial de Gore. Apesar de imensamente popular na Costa Leste e Oeste, o candidato não seria imbatível - para o chamado "cinturão da Bíblia", no meio dos EUA, Gore ainda é sinônimo de liberal elitista e pedante. "Gore candidatar-se seria mais ou menos como o Pelé jogar mais uma Copa: tem muito mais riscos do que potenciais vantagens", diz Velasco. Com a diferença de que Gore, mesmo sem "jogar a Copa", vai continuar sendo uma das mais influentes figuras públicas do mundo, uma espécie de Alan Greenspan do meio ambiente. Como ele disse ontem: "Vou usar esse prêmio para acelerar a mudança de consciência das pessoas sobre a urgência do problema de mudança climática." Além disso, praticamente canonizado como um profeta do aquecimento global, Gore terá enorme cacife para influenciar as eleições americanas. O apoio do Nobel da Paz terá peso de ouro. Ele poderá negociar habilmente seu endosso a Hillary Clinton, com quem teve vários atritos na Casa Branca. Gore pode exigir de Hillary a adoção de um Protocolo de Kyoto ampliado - e depois reclamar os louros por ter recuperado os EUA da condição de pária ambiental. Mas os goremaníacos estão longe de desistir. Na quarta-feira, a organização DraftGore (Convoque Gore) publicou um anúncio de página inteira no New York Times. Com o título "Carta Aberta a Al Gore", o anúncio dizia: "Seu país precisa de você agora, assim como seu partido e o planeta que você vem lutando duro para salvar." O grupo arrebanhou 170 mil pessoas para o abaixo-assinado pedindo que Gore entre na campanha. "O ex-vice-presidente aprecia os sentimentos calorosos que levaram ao anúncio, mas não tem a intenção de concorrer à presidência", respondeu a porta-voz de Gore, Kalee Kreider. Mesmo fora da corrida, Gore vai bem nas pesquisas. No levantamento mais recente da CNN, de 9 de setembro, Hillary lidera com 39% das preferências, seguida por Barack Obama, 20%, John Edwards, 15%, e o não-candidato Al Gore, 13%. Muitos democratas não perderam a esperança e acompanham as flutuações de peso de Gore. Ele teria dito certa vez que, se fosse candidato, iria emagrecer. "Se Gore fosse presidente, os EUA deixariam de ser o lanterninha em várias questões globais e voltariam a ser um líder genuíno", diz o ativista Peter Ryder, que está organizando um show em Iowa, em 11 de novembro, para arrecadar fundos para uma eventual candidatura do ex-vice-presidente. Gore-Obama - os democratas que se opuseram à guerra do Iraque desde o início - seria a chapa dos sonhos para muitos ativistas da esquerda. Com candidatura ou não, esse Prêmio Nobel é um tapa na cara do governo Bush, que passou anos negando a existência do aquecimento global. Gore tem sido um grande crítico das políticas de Bush para o meio ambiente. O prêmio foi encarado como uma alfinetada no governo, que se recusou a assinar o Protocolo de Kyoto e resiste a qualquer limitação formal às emissões de gases poluentes.

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