Execução de assessores de Saddam permanece sem data

Mas, segundo as autoridades iraquianas, pressões interna e externa não impedirão que Barzan Al Tikriti e Awad Al Bander sejam enforcados, conforme sentença

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Por Agencia Estado
Atualização:

Às voltas com a ira dos sunitas contra a tumultuada execução de Saddam Hussein, as autoridades iraquianas ainda não marcaram a data para o enforcamento dos dois assessores do ex-ditador condenados no mesmo processo, disse um assessor do governo iraquiano. Autoridades afirmaram, entretanto, que não há a hipótese de os enforcamentos serem cancelados. Havia rumores de que o ex-chefe de inteligência Barzan Al Tikriti, que é meio-irmão de Saddam, e o ex-juiz Awad Al Bander seriam enforcados na quinta-feira. Um assessor do primeiro-ministro Nuri Al Maliki disse, porém, que não há data marcada. Barzan, Bander e Saddam foram condenados à morte por crimes contra a humanidade, relativos ao assassinato de 148 xiitas em 1982 na aldeia de Dujail. Apesar da aparente relutância diante da revolta provocada pela morte de Saddam e das pressões internacionais contra a maneira como o julgamento foi realizado, um alto funcionário do governo iraquiano afirmou à rede britânica BBC que os dois condenados serão mortos, conforme determinou a sentença. Segundo Sami al-Askari, "ninguém pode impedir a confirmação do veredicto. A lei iraquiana não permite nem que o presidente da república ou o primeiro ministro mudem uma sentença ou concedam perdão". "Assim sendo, nenhuma pressão pode barrar as execuções", concluiu. Já o deputado xiita Bahaa Al Araji disse que as execuções devem ser adiadas para domingo, primeiro dia útil para os muçulmanos depois do feriado do Eid Al Adha. "Até onde eu sei, as execuções vão ocorrer no domingo, se as coisas permanecerem como estão. Não tenho certeza da hora, mas duvido que seja no mesmo lugar", afirmou o parlamentar, ligado ao clérigo xiita Moqtada Al Sadr, cujo nome era gritado no momento da execução de Saddam para irritá-lo. Apelo da ONU A alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para direitos humanos, Louise Arbour, pediu na quarta-feira ao Iraque que não execute os dois condenados, por respeito ao direito internacional e por haver dúvidas sobre a justiça e imparcialidade do julgamento. Maliki havia rejeitado um apelo semelhante de Arbour em relação a Saddam. O fato de o ex-ditador ter sido enforcado no sábado, apenas quatro dias depois da confirmação da sentença, e no primeiro dia do Eid Al Adha, chocou muita gente no Iraque e no resto do mundo. A situação ficou ainda mais tensa por causa de um vídeo, aparentemente gravado com um celular, em que autoridades xiitas humilham verbalmente Saddam, que era sunita. O governo anunciou a prisão de vários guardas supostamente ligados à gravação e divulgação do vídeo. Milhares de sunitas saíram às ruas do Iraque nesta semana para protestar contra a execução e o vídeo. O túmulo de Saddam em Awja, sua aldeia natal, atrai uma romaria de admiradores. Embora a investigação do governo se volte contra os guardas, é possível que altos escalões também sejam implicados, o que complicaria ainda mais os esforços de reconciliação nacional do governo. EUA Os EUA disseram não ter tido papel algum na execução, e um general afirmou que, se o enforcamento coubesse aos norte-americanos, teria sido "diferente". O mesmo general, William Caldwell, afirmou que a violência diminuiu durante o Eid, mas que os EUA se preparam para um recrudescimento. Na quinta-feira, duas bombas explodiram perto de um posto de gasolina no bairro de Mansour, zona oeste de Bagdá, matando pelo menos 13 pessoas e ferindo 22, segundo a polícia.

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