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Execução de Saddam repercute em todo o mundo

Morte de ex-ditador gerou comentários de diversas autoridades mundiais, entre elas o premier iraquiano e representantes do Irã, Vaticano, Inglaterra, Rússia e Líbia

Por Agencia Estado
Atualização:

O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, pediu aos seguidores do recém executado Saddam Hussein que "revejam as suas posturas e participem do processo político do Iraque", segundo um comunicado oficial. Horas depois da morte de Saddam Hussein, o governante afirmou que a sua morte "vira uma página negra da história do Iraque". Maliki insiste na nota que o enforcamento "talvez represente o fim das tentativas de restabelecer um regime ditatorial governado por um partido único". Além disso, ele rejeitou a idéia de que a sentença tenha obedecido a razões políticas. Para ele, os juízes iraquianos são conhecidos por sua "neutralidade e capacitação". O governante acrescenta na nota que "as portas estão abertas a todos os que não têm as mãos manchadas de sangue de inocentes para que participem do processo de reconstrução de um Iraque para todos os iraquianos, sem exceções nem discriminação". "O novo Iraque não será governado por um só partido ou um só credo", conclui. Hamas O movimento de resistência islâmico Hamas, que ocupa a Presidência da Autoridade Nacional Palestina (ANP), condenou neste sábado, 30, a execução do ex-presidente do Iraque, Saddam Hussein, e lembrou os laços que unem os povos palestino e iraquiano. O ministro do Trabalho, Mohammed Barghouti, lamentou a execução de Saddam, embora o Hamas divergisse do regime que o ex-ditador impôs no Iraque. Já o porta-voz do Hamas Fawzi Barhum classificou a execução do ex-ditador como um "assassinato político". Saddam Hussein era "um prisioneiro de guerra e seu enforcamento violou o direito internacional", disse o porta-voz do Hamas em declarações à rádio pública. O porta-voz do movimento islâmico também criticou a realização da execução no começo de uma importante festividade muçulmana, a do Sacrifício, que começou neste sábado. Saddam Hussein foi um ativo defensor da causa palestina (atacou Israel durante a guerra do Golfo de 1991, embora esse país não participasse do conflito) e suas últimas palavras foram, segundo testemunhas: "A Palestina é árabe." Anistia Internacional O diretor da Anistia Internacional (AI) na Espanha, Esteban Beltrán, afirmou que a execução de Saddam demonstra que "um julgamento injusto não faz justiça", e demonstrou sua preocupação com as vítimas do regime do ex-presidente iraquiano que não terão "direito à verdade". O diretor ressaltou que, com a morte de Hussein, as autoridades iraquianas perderam uma "grande oportunidade de mostrar a seu próprio povo e ao resto do mundo que é possível fazer justiça mesmo com as pessoas acusadas dos crimes mais horríveis". A Anistia Internacional defendia "um julgamento misto, nacional e internacional, que permitisse levar adiante" vários casos pelos quais Hussein era acusado. Neste sentido, Beltrán lembrou que "não vai haver a possibilidade de Hussein prestar contas a muitas vítimas" de seu regime. Ele criticou a "crescente aplicação da pena de morte no Iraque", condenação que as autoridades do país adotaram "com entusiasmo", já que, segundo fontes, durante 2006 houve 54 execuções por enforcamento. Este tipo de pena "não está conseguindo parar as ondas de crimes" e representa uma deterioração da situação de "um país devastado, onde entre 50 e 100 (pessoas) morrem por dia". Conselho Mundial de Igrejas O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) afirmou, após a execução de Saddam, que o assassinato de qualquer pessoa contribui para que uma tragédia se torne ainda maior, o que no Iraque é evidente, e pediu o fim "do medo e da morte" que caracterizaram o regime do ex-ditador iraquiano. "Embora a detenção de um líder por seus crimes seja importante, matar qualquer pessoa contribui para tornar uma tragédia ainda maior e em nenhum lugar isto é tão evidente num território no qual há assassinatos diários", afirmou o secretário-geral do CMI, Samuel Kobia. O Conselho Mundial de Igrejas, que promove a unidade cristã e tem sede em Genebra, foi fundado em 1948 e reúne 348 igrejas protestantes, ortodoxas e anglicanas, entre outras, e representa 560 milhões de cristãos de 110 países. Num comunicado divulgado em Genebra, a organização, que é contra a pena de morte, pediu que "os novos líderes do Iraque trabalhem para a reconciliação e o respeito mútuo entre as diferentes comunidades" do país. Kobia pediu também que "Deus conceda ao Iraque a misericórdia, justiça e companhia que por tanto tempo negou", bem como o fim "do medo e da morte que caracterizaram o regime de Hussein e que ainda continuam". Ele também expressou seu desejo de que os iraquianos se vejam livres da "violência e da demagogia" e de que vigore o poder da lei, já que o "Iraque e seus habitantes precisam de paz". Irã O presidente da comissão de Segurança Nacional e Política Externa do Parlamento iraniano, Alaedin Boruyerdi, parabenizou neste sábado "o povo iraniano e os mártires da guerra" entre o Irã e o Iraque (1980-1988) pela execução de Saddam Hussein. "Felicito o grande povo iraniano, especialmente os parentes dos mártires, das vítimas e dos desaparecidos (na guerra), pela morte do principal culpado por inúmeros crimes contra o Irã", disse Boruyerdi em declarações à agência estudantil de notícias Isna. Na primeira reação oficial da República Islâmica à execução do ex-ditador iraquiano, o parlamentar iraniano ressaltou que "o destino de Saddam serve para dar uma lição aos criminosos atuais". O parlamentar iraniano também condenou o fato de Saddam ter sido processado "de maneira limitada" e "executado rapidamente sob a supervisão dos americanos", sem que o "histórico de seus crimes" tenha sido mostrado. "De todas as formas, o destino de Saddam mostra que, embora as grandes potências do mundo apóiem um ditador ou um criminoso, estes terão o mesmo fim de Saddam", acrescentou. Líbia A Líbia decretou neste sábado três dias de luto nacional pela execução de Saddam, classificado como "prisioneiro de guerra", e suspendeu a festividade de Eid al-Adha, que marca o fim da peregrinação a Meca. O chefe de Estado líbio, Muammar Kadafi, declarou que o julgamento do ditador iraquiano foi uma "farsa" e "ilegal", por ter sido realizado durante a ocupação militar do Iraque. "Condenado à morte, Hussein era um prisioneiro de guerra que foi derrubado pelas forças de ocupação e não por seu povo. Seu julgamento foi ilegal e uma farsa", disse Kadafi à televisão estatal líbia. O líder líbio acrescentou que o Iraque é um país imerso na violência, no qual já morreram milhares de pessoas, o que mostra que a ocupação militar liderada pelos Estados Unidos "desembocou num genocídio". Vaticano O porta-voz do escritório de imprensa do Vaticano, Federico Lombardi, expressou neste sábado a preocupação da Santa Sé com a possibilidade de violência e vinganças no Iraque, após a "trágica" execução de Saddam. Em declarações à Rádio Vaticano, Lombardi reafirmou que a Igreja Católica se opõe à pena de morte e que a execução do ex-líder iraquiano é "trágica" e "um motivo de tristeza, embora se trate de uma pessoa culpada de graves delitos". O porta-voz acrescentou que o "assassinato de um culpado não é o caminho para a reconstrução da justiça e a reconciliação da sociedade". Lombardi concluiu com um apelo para que "nestes tempos obscuros para o povo iraquiano, os governantes realizem verdadeiramente um esforço para surgir finalmente a luz da reconciliação e da paz". Suíça A Suíça condenou os "graves crimes" cometidos pelo ex-presidente iraquiano Saddam Hussein, mas afirmou que desaprova totalmente sua execução. "Para a Suíça, a pena de morte não tem justificativa alguma, nem mesmo como resposta aos crimes mais graves", assegurou neste sábado o Ministério de Assuntos Exteriores suíço, num comunicado em que reitera o compromisso do país na luta por sua completa abolição. "Esta posição fundamental", acrescenta, "é igualmente válida para o caso de Saddam Hussein". A Suíça também expressou sua "grande preocupação" com a "dramática situação de insegurança" no Iraque e desejou que os cidadãos iraquianos "possam superar as provações do passado e encontrar as bases para uma reconciliação que permita avançar em direção à paz e à construção de uma sociedade democrática". Itália A Itália reiterou neste sábado sua rejeição à pena de morte após a execução de Saddam Hussein e mostrou sua preocupação com o possível aumento de tensão que sua morte pode produzir no Iraque. "As primeiras horas já mostram como conseqüência o previsto aumento da tensão e da violência no país. Espero que seja a única coisa que aconteça", disse o primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi. Prodi acrescentou que já havia expressado várias vezes sua rejeição à pena de morte e sua "preocupação com o aumento da tensão no Iraque" ante a execução do ex-ditador iraquiano. Numa nota, o presidente italiano, Giorgio Napolitano, disse que, "interpretando os sentimentos profundos do povo italiano e os valores morais e jurídicos da Constituição, a Itália mostra sua contrariedade a qualquer sentença de morte e sua execução". O presidente da Câmara dos Deputados, Fausto Bertinotti, expressou "o sentimento de horror e de rejeição perante a pena de morte" e sua preocupação "com as conseqüências dramáticas que um evento tão desestabilizador pode ter no Iraque". Por sua vez, o ministro da Justiça, Clemente Mastella, reafirmou ser contra a pena de morte e acrescentou que "o assassinato de Saddam Hussein não dará uma solução aos problemas do Iraque" e que sua execução "pode deixar em segundo plano os horrendos crimes que cometeu" Reino Unido A ministra de Relações Exteriores do Reino Unido, Margaret Beckett, disse neste sábado que o ex-presidente iraquiano "prestou contas" por alguns dos terríveis crimes que cometeu. Em declaração após a execução de Saddam, a chefe da diplomacia britânica anunciou sua satisfação com o fato de que o ex-ditador foi processado num tribunal iraquiano por alguns dos "terríveis crimes cometidos contra a população iraquiana". Ela lembrou que o governo britânico "não apóia o uso da pena de morte, nem no Iraque nem em qualquer outro lugar", mas "respeita a decisão" tomada pelas autoridades iraquianas. Uma porta-voz do primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, afirmou que Beckett falou em nome de todo o governo. Japão O Primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, afirmou que seu país continuará apoiando o Iraque após a execução de Saddam, informaram fontes oficiais. "O Japão espera que a estabilidade chegue ao Iraque e continuará levado seu apoio ao país", disse um comunicado divulgado pela agência Kyodo. Abe é o sucessor de Junichiro Koizumi, o ex-primeiro-ministro que ofereceu seu apoio aos Estados Unidos na invasão do Iraque e enviou tropas japonesas para trabalhos de reconstrução na região de Samawa. Rússia O Ministério de Assuntos Exteriores da Rússia lamentou a execução do ex-presidente iraquiano e destacou que seu enforcamento "pode levar ao agravamento da situação político-militar e das tensões confessionais" no Iraque. "A Rússia, como muitos outros países, se opõe à aplicação da pena de morte, independentemente das causas que motivem a adoção das decisões judiciais", disse Mikhail Kaminin, o porta-voz do ministério e citado pela agência oficial russa Itar-Tass. O diplomata ressaltou que, "infelizmente, os inúmeros chamados de organizações internacionais e representantes de Estado às autoridades iraquianas para que se abstivessem de aplicar a pena capital não foram ouvidos". "Estamos convencidos de que, nesta situação, é necessário levar em consideração as conseqüências políticas da execução do ex-presidente iraquiano, pois o destino de Saddam Hussein é um problema delicado para a sociedade iraquiana", acrescentou. Kaminin ressaltou que o Iraque "se encontra à beira de um conflito civil de grande envergadura". A Rússia, segundo o porta-voz, está disposta a contribuir, seja bilateralmente ou por meio dos esforços coletivos da comunidade internacional, para a estabilização do Iraque. China O Ministério de Relações Exteriores chinês afirmou, após o anúncio da execução de Saddam, que espera que o Iraque "possa conseguir a estabilidade e o desenvolvimento", e evitou comentários sobre a figura do ex-ditador iraquiano. No entanto, a agência oficial Xinhua destacou em seu comunicado sobre a reação oficial que Saddam "foi deposto pela invasão do Iraque em 2003, liderada pelos Estados Unidos". O porta-voz da chancelaria chinesa, Qin Gang, destacou em comunicado que os assuntos do Iraque "devem ser decididos pelo povo iraquiano". Parte da opinião pública da China, país que manteve boas relações com o regime de Saddam, se mostrou contra a condenação do líder iraquiano. Alguns se disseram tristes com "a execução de um homem idoso". O governo chinês se opôs à intervenção militar no Iraque em 2003. Mas mantém boas relações com o novo regime iraquiano, com o qual conseguiu restabelecer contratos comerciais e energéticos interrompidos com a queda de Saddam. Índia Em Nova Délhi, o governo indiano anunciou sua "contrariedade" ao saber da execução do ex-ditador, que considerou "infeliz", segundo um comunicado emitido pelo Ministério de Relações Exteriores. "Já tínhamos expressado a esperança de que a execução não fosse realizada. Estamos contrariados", disse o ministro de Relações Exteriores indiano, Pranab Mukherji. Em 27 de dezembro, a Índia tinha pedido uma comutação da pena de Saddam Hussein, por achar que a sua morte dificultaria a paz e a reconciliação no Iraque. Alemanha e França Os governos da França e da Alemanha reafirmaram, após a execução do ex-ditador iraquiano, sua rejeição geral à pena de morte. "Compreendemos os sentimentos do povo iraquiano e não cabe nenhuma dúvida sobre os crimes de Saddam Hussein. Mas nos opomos à pena de morte onde quer que se aplique", disse o ministro adjunto de Relações Exteriores alemão, Gernot Erler, em declarações a diversas rádios. Em Paris, a chancelaria francesa adotou o mesmo tom ao lembrar que "o conjunto dos parceiros europeus" defende a abolição universal da pena de morte. "Mais do que nunca, o objetivo agora deve ser o retorno à plena soberania e à estabilidade do Iraque", acrescentou a nota, pedindo "a todos os iraquianos que olhem para o futuro e trabalhem pela reconciliação e pela união nacional". Matéria ampliada às 12h39

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