Exército cingalês reconhece "derrota" nos últimos combates

Cessar-fogo vigente desde 2002 tem sido violado nos últimos meses; antes do acordo, Sri Lanka viveu guerra civil que durou 20 anos e deixou 65 mil mortos

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Por Agencia Estado
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O Exército cingalês reconheceu nesta sexta-feira que a morte de 133 soldados na ofensiva lançada nesta quarta-feira contra o grupo guerrilheiro Tigres para a Libertação da Pátria Tâmil (LTTE) no norte do país representou uma "derrota" para as forças governamentais. Em declarações à agência de notícias EFE, fontes militares atribuíram o fracasso da ofensiva devido a "um erro de cálculo" e um excesso de confiança que "subestimou" o potencial da guerrilha. Foi o maior número de mortos desde a assinatura do cessar-fogo em 2002. Outros 280 militares ficaram feridos. "Foi uma decisão não desejada e pouco elaborada pelo Exército, que levou a mortes desnecessárias", disse um militar cingalês, que pediu para não ser identificado. Segundo o oficial, "o LTTE sabia que o Exército pretendia atacar essa posição, por isso reforçou as tropas e utilizou toda sua artilharia para derrotar nossas forças". Nos últimos meses, as tropas governamentais obtiveram vários êxitos em suas operações contra os rebeldes no leste do país, o que, segundo o militar, os levou a um erro de cálculo no norte, onde os tâmeis concentram a maior parte de suas milícias. "É certo que ganhávamos território no leste, onde o LTTE é mais fraco, mas o norte é o seu reduto e usaram todas as suas forças para manterem sua supremacia ali", disse o oficial. Segundo fontes da guerrilha, o Exército lançou nesta sexta-feira uma nova ofensiva no distrito de Amparai, no leste do país, com um alcance ainda incerto. As operações no norte foram concluídas com mais de mil feridos dos dois lados e uma guerra propagandística sobre o número de mortos na batalha, que se desenvolveu na península de Jaffna, no norte do País. As autoridades de Colombo afirmam que 200 guerrilheiros morreram, enquanto o LTTE reconhece apenas 22 mortos entre suas fileiras. Em meio às divergências sobre o número de mortos, que alguns veículos de comunicação afirmam ter chegado a quase 500, o LTTE entregou à Cruz Vermelha os corpos de 74 soldados do Exército Cingalês. A sangrenta ofensiva pode prejudicar as conversas de paz entre o governo e os rebeldes, previstas para acontecer no próximo dia 28 em Genebra. Enquanto o Executivo confirmou na quinta-feira que o calendário previsto para o diálogo será mantido, o LTTE anunciou que divulgará sua posição em uma semana. Isto poderia significar uma mudança de opinião da guerrilha, que já avisou que reconsideraria sua intenção de participar dos diálogos se as "agressões militares" do Exército governamental continuarem. Embora o governo cingalês tenha reconhecido que não têm condições de garantir a segurança dos estrangeiros em Jaffna, o mediador de paz enviado pela Noruega, Jon Hanssen Bauer, viajará para o Sri Lanka na próxima semana para tentar reconduzir a situação. Conflito étnico O cessar-fogo está vigente no Sri Lanka desde fevereiro de 2002, mas tem sido violado sucessivamente nos últimos meses. Antes da assinatura do acordo, o Sri Lanka viveu uma guerra civil que durou 20 anos e deixou cerca de 65 mil mortos. Durante este conflito, o LTTE lutou por um Estado independente no norte e no sul do país, em resposta às reivindicações da etnia tâmil (que representa 18% da população) frente à maioria cingalesa, que deteve o poder político e militar após a independência do Sri Lanka.

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