Exército de Bogotá espionou negociadores

Presidente Santos demite cúpula da inteligência após revista revelar que militares monitoravam diálogo com as Farc

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BOGOTÁ - Um esquema de espionagem das negociações de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) levou ontem à queda da cúpula de inteligência do Exército de Bogotá. O monitoramento por meio de grampos ilegais foi revelado pela revista Semana e irritou o presidente Juan Manuel Santos - que busca um acordo com a guerrilha como um de seus trunfos para disputar a reeleição este ano e diz que não autorizou a espionagem. Segundo a reportagem, facções do Exército não tinham consentimento do governo para monitorar políticos da oposição, membros da guerrilha e negociadores do próprio governo que buscam um acordo em Havana.O ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, anunciou a "substituição" do chefe de Inteligência do Exército, o general Mauricio Ricardo Zúñiga, e do diretor da Central de Inteligência Técnica (Citec), o general Oscar Zuluaga. Segundo Pinzón, foi aberta uma "investigação disciplinar". De acordo com a revista, um capitão que pertence ao batalhão de Inteligência Técnica do Exército dirigiu, desde setembro de 2012, uma central de grampos em um local que funcionava como restaurante e escola de informática. Os supostos espiões interceptavam e-mails, bases de dados e mensagens de celulares.Militares e civis recrutados em convenções de informática operavam o esquema. Já entre os espionados estão ativistas e políticos de esquerda, como a ex-senadora Piedad Córdoba e o representante na Câmara Ivan Cepeda."Alvaro Uribe está por trás de tudo isso. Não se esqueça que (Uribe) é o inimigo número um da paz na Colômbia", disse o negociador-chefe da insurgência em Havana, Iván Márquez.Também estariam sendo monitorados os representantes do governo nas conversas de paz com as Farc em Cuba: o chefe negociador e ex-vice-presidente Humberto de la Calle, e o alto comissário de Paz, Sergio Jaramillo, além do diretor da Agência Colombiana para a Reintegração (ACR), Alejandro Eder."É inaceitável que se faça contra cidadãos, muito menos contra funcionários do próprio Estado. Especificamente contra os negociadores é inaceitável", criticou Santos. "Devemos descobrir até onde chegou esse uso ilícito da inteligência e quem pode estar interessado em gravar e interceptar negociadores."

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