Exército do Nepal começa desarmamento antes das eleições

Entrega das armas e dispersão visam facilitar eleições da Assembléia Constituinte

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Por Agencia Estado
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O Exército do Nepal começou nesta terça-feira, 10, a entregar suas armas, em um novo passo no acordo de paz com a guerrilha maoísta que deve conduzir às eleições de 20 de junho, data considerada precipitada pela ONU. Em um gesto equivalente ao dos guerrilheiros, o Exército entregará cerca de 3,5 mil armas, que ficarão sob a vigilância de inspetores da ONU em 14 depósitos localizados em um quartel de Katmandu, capital do país. Foram entregues e registradas cerca de 850 armas nesta terça-feira, informou o porta-voz da missão da ONU, Kieran Dwyer, em comunicado. Segundo ele, será preciso três dias para completar o processo. O governo e os maoístas assinaram um acordo em novembro de 2006 para pôr fim a dez anos de guerra. O tratado previa que tanto os guerrilheiros como os soldados se dispersariam e entregariam suas armas e munições. O processo de paz foi sendo cumprido em diferentes ritmos a cada etapa e permitiu aos maoístas entrar no Parlamento e no governo (neste, há apenas nove dias). Em fevereiro, os maoístas registraram 35 mil combatentes e cerca de 3,5 mil armas, números semelhantes aos do Exército. Processo de transição O objetivo, após a entrega das armas e a dispersão, é criar um ambiente de tranqüilidade que permita celebrar, no dia 20 de junho, as eleições para a Assembléia Constituinte. Só então se decidirá se a Monarquia será mantida. O Exército foi um instrumento empregado pelo rei Gyanendra não só para a luta contra a guerrilha, mas também para reprimir manifestações. Os efetivos foram usados nos protestos de abril de 2006, o que acabou obrigando o rei a renunciar ao poder absoluto e a abrir um processo de diálogo entre Governo e maoístas. Por outro lado, a guerrilha também tem um longo "histórico" de abusos da população civil. A missão da ONU no Nepal já expressou seu ceticismo diante da data marcada para as eleições. O chefe da representação, Ian Martin, afirmou na segunda-feira que a escolha não é "técnica nem politicamente viável". Os maoístas, no entanto, não escondem sua pressa em realizar as votações, convencidos de que o rei, privado de poder, será derrubado nas urnas. O novo ministro da Informação e Comunicação nepalês, o ex-líder guerrilheiro Krishna Bahadur Mahara, assinou nesta terça o registro de seu partido perante a comissão eleitoral em Katmandu. A ONU deve ajudar o Nepal na realização de eleições livres e transparentes. No entanto, há uma semana, Martin lembrou ao líder máximo maoísta, Prachanda, que qualquer data deve ser escolhida com 90 dias de antecedência para que os pleitos sejam devidamente organizados. Etnia madheshi Além do processo de transição em andamento, o Nepal tem o grande desafio de resolver a instabilidade no sul do país, onde a presença da minoria madheshi é maior. A etnia se sente excluída dos acordos de paz assinados em novembro. Uma violenta revolta dos madheshi em janeiro e fevereiro fez com que o Governo nepalês se dispusesse a elaborar uma lei para aumentar a participação da minoria na próxima Assembléia Constituinte e para lhe dar mais autonomia. No entanto, as concessões não convenceram os madheshi nem apaziguaram sua rivalidade com os maoístas, como demonstrou o choque do dia 21 de março. Os seguidores dos dois grupos se dirigiam a atos políticos quando começou o conflito, e o resultado foi a morte de 28 pessoas na cidade de Gaur, no sul do país. Ian Martin denunciou a existência de armas ilegais nas mãos da população civil e reiterou sua preocupação com o cumprimento do calendário de paz. No dia 8 expirou um prazo dado pelo Governo aos cidadãos para a entrega voluntária de armamentos. "Levará algum tempo para que se resolvam os assuntos étnicos, e nós não temos tanto (tempo)", advertiu Martin durante uma reunião no domingo com um conselheiro do primeiro-ministro do Nepal, Girija Prasad Koirala, em referência às reivindicações dos madheshi.

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