(Atualizada às 20h55) A tentativa venezuelana de usar a declaração final da Cúpula das Américas para condenar as sanções americanas derrubou o documento final do encontro. Sem acordo, o evento, que pela primeira vez reúne na mesma mesa Cuba e Estados Unidos, foi ofuscado pelo crescimento de outra disputa regional, entre americanos e venezuelanos.
Nesta quinta-feira, 9, chanceleres dos países participantes se reuniram na Cidade do Panamá em um encontro prévio. A cúpula ocorrerá amanhã e sábado com a participação dos chefes de Estado e de governo americanos.
Os três parágrafos de preâmbulo da declaração incluídos pelos venezuelanos condenavam as sanções unilaterais e os ataques “à soberania dos países”, citando diretamente os EUA. Em um encontro em que tudo precisa ser decidido por consenso, a tentativa de última hora dos venezuelanos foi vista como um “bode na sala” pelos diplomatas e inviabilizou a publicação de um texto que vinha sendo trabalhado havia semanas.
Até o último minuto esperava-se que fosse possível convencer os venezuelanos a retirarem o texto. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, não iria à reunião de chanceleres realizada nesta quinta-feira, 9. Foi chamado de última hora para tentar ajudar na negociação, já que o Brasil tem bom diálogo com a Venezuela.
Quando o encontro começou, no início da tarde, já se sabia que não haveria resultado possível e a declaração presidencial seria transformada em um relatório da presidência da Cúpula, exercida pelo Panamá, com os pontos de consenso. “Foi a solução possível se não havia consenso”, afirmou Vieira, que negou um enfraquecimento da Cúpula pelo resultado negativo.
É a terceira vez seguida que a Cúpula das Américas terminará sem uma declaração conjunta. Mas os problemas anteriores foram causados pela tensa relação entre EUA e Cuba. Apesar de nunca ter participado de nenhum dos encontros, o veto americano à participação dos cubanos foi criando crescente resistência na região. A partir de 2009, em Trinidad e Tobago, com o aumento dos países com governos de esquerda, a aceitação do bloqueio americano diminuiu e as dificuldades de negociação cresceram.
O encontro do Panamá deveria ser marcado pela reaproximação dos dois países após a decisão de ambos de reatar as relações diplomáticas. A Venezuela, no entanto, roubou a cena. Ao final do encontro de chanceleres, a ministra das Relações Exteriores venezuelana, Delcy Rodríguez, afirmou que se está “acabando com os vestígios de imperialismo e colonialismo nas Américas”.
“O presidente (Barack) Obama será notificado da exigência de que se derrube o decreto imperial (que classificou a Venezuela como ameaça à segurança dos EUA e impôs sanções a sete funcionários do governo chavista)", afirmou. “O próprio presidente americano reconheceu que a Venezuela não é uma ameaça . Esperamos agora a retificação. Errar é humano, retificar é dos sábios.”