Exilados políticos denunciam tática eleitoral chavista

Segundo analistas, forçar opositores a sair da Venezuela é uma estratégia de Maduro para escolher seus adversários políticos

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

WASHINGTON - Omar Lares disse que conseguiu fugir pela porta dos fundos de sua casa quando viu dezenas de policiais chegarem ao local no dia 30 de julho, data da eleição da Assembleia Constituinte venezuelana convocada por Nicolás Maduro e contestada pela oposição. Prefeito do município Campos Elías, em Mérida, ele havia se recusado a cumprir a ordem federal de proibir protestos contra a votação.

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Mas seu filho mais velho, Juan Pedro, foi pego e está há 98 dias em uma prisão em Caracas. Lares sustenta que ele está “sequestrado”, porque não aparece em nenhuma lista oficial de detidos nem é alvo de uma acusação formal do Estado. Dois dias depois da invasão de sua casa, o prefeito conseguiu cruzar a fronteira com a Colômbia e passou a integrar a lista de líderes da oposição transformados em exilados políticos. 

Os objetivos não foram alcançados e a decepção entre os opositores ficou evidente: Maduro continua no poder, as manifestações deixaram mais de 100 mortos e a Constituinte foi instalada apesar das denúncias de irregularidades na eleição Foto: AP Photo/Alejandro Cegarra

Lares faz parte de um grupo de seis prefeitos eleitos pela oposição que fugiram da Venezuela entre julho e agosto para escapar da perseguição de Maduro. Dos chefes municipais eleitos em 2013, como ele, cinco estão na prisão ou em detenção domiciliar, entre os quais Antonio Ledezma, de Caracas.

Desde os primeiros grandes protestos contra o governo, em 2014, centenas de líderes da oposição venezuelana foram colocados atrás das grades ou obrigados a sair do país. “Pela primeira vez em meus 47 anos de vida eu me encontro em um limbo, sem saber o que acontecerá. Minha prioridade é a libertação do meu filho”, afirmou Lares, que está na Colômbia. 

Destituído do cargo pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), controlado pelo governo, o prefeito de Diego Bautista Urbaneja, Gustavo Marcano, disse que passou um mês na clandestinidade. Fugiu do país por via marítima. Em 2 de agosto chegou aos EUA, onde passou a viver com a mulher e os filhos de 7 e 9 anos. “O mais duro é começar uma vida do zero e deixar para trás os amigos, os vizinhos e a família”, afirmou. Marcano prepara documentos para pedir asilo político nos EUA. Até lá, não pode trabalhar legalmente. “Vendi meu carro, coloquei minha casa à venda e pedi ajuda a meus pais.” 

Coordenador nacional do opositor Vontade Popular, Carlos Vecchio fugiu da Venezuela em 2014, depois de passar três meses na clandestinidade. Em fevereiro daquele ano, ele foi condenado à prisão sob as mesmas acusações imputadas ao líder de seu partido, Leopoldo López, em razão do apoio às manifestações contra Maduro. Entre elas, danos à propriedade e incêndio intencional.

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Sua mulher, Ana Victoria, estava no sexto mês de gravidez quando Vecchio iniciou sua fuga. O parto ocorreu cerca de 30 dias depois de ambos se reencontrarem nos Estados Unidos. Hoje, o casal vive em Miami com o filho Sebastián, de 3 anos. Vecchio nunca mais voltou à Venezuela. “Eu não me sinto livre, porque não quero estar aqui.” Como muitos dos exilados políticos, ele se dedica à busca de apoio internacional à oposição. “Sou mais útil na luta fora do país do que na prisão.”

A ofensiva contra quadros da oposição afeta sua capacidade de organização e a habilidade de se contrapor a Maduro, afirmou Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Américas. “Essa é uma depuração intencional do sistema político promovida pelo governo. É difícil a oposição ser efetiva se muitos dos que integram a sua espinha dorsal estão detidos ou no exílio.”

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Desde o agravamento da crise, quase 2 milhões de venezuelanos deixaram seu país em direção aos Estados Unidos, Brasil, Espanha e outros países. No ano passado, eles lideraram os pedidos de asilo nos Estados Unidos e na Espanha.

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A vitória governista nas eleições regionais realizada há três semanas representou outro golpe para os críticos de Maduro, que racharam quando quatro dos cinco eleitos pela oposição prestaram juramento perante a Assembleia Constituinte. Michael Penfold, professor do Instituto de Estudos Superiores de Administração (IESA), de Caracas, afirmou que Maduro usará o resultado para tentar legitimar a Assembleia. 

“A oposição é perseguida e opera em condições muito precárias”, disse Penfold. De seus quatro potenciais candidatos à eleição presidencial de 2018, dois foram impedidos de se apresentar e um terceiro perdeu a eleição para governador. “Maduro também quer escolher seu opositor na disputa.”