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Expatriados se organizam para pressionar governo de Theresa May sobre o Brexit

Associações formadas nas principais capitais da Europa tentam conscientizar o governo, os parlamentares e a opinião pública, das reais implicações do divórcio do bloco europeu

Por Andrei Netto , correspondente e Paris
Atualização:

PARIS - Em paralelo à multiplicação dos pedidos de nacionalidades da França, da Alemanha, da Espanha ou da Irlanda, grupos de britânicos estão mobilizados em toda a Europa para pressionar o governo da primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, a buscar o acordo mais generoso possível com a União Europeia. Em diversas capitais do continente, como Paris, movimentos estão organizados para garantir que o direito de residir no exterior como expatriado seja garantido, assim como o acesso à saúde e à aposentadoria.

A preocupação dos líderes desses movimentos de lobby é lutar pela permanência do Reino Unido na UE ou ao menos por um " soft Brexit ", ou seja, de um divórcio amigável entre Londres e Bruxelas. O receio é que, sem um acordo amplo, todos os direitos incluídos na cidadania europeia sejam perdidos, tornando a vida de quem optou por viver expatriado um inferno. Entre os direitos atuais estão o de residir em qualquer um dos outros 27 países da União Europeia, sem que para isso seja necessário solicitar vistos de residência ou de trabalho. Quem opta por viver no exterior também não tem de solicitar o reconhecimento de sua formação profissional, e tem os anos de trabalho reconhecidos pelos sistemas de previdência.

Manifestante mascarado protesta contra a ativação do Artigo 50 em Londres Foto: AFP PHOTO / Justin TALLIS

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Outro problema concreto é o de acesso ao sistema de saúde. Britânicos inscritos no NHS, o Sistema de Saúde Nacional, mas que vivem na França, hoje podem utilizar a rede médica e hospitalar sem ônus suplementar. Em caso de separação litigiosa entre Londres e Bruxelas, quem não contribuiu para os sistemas dos países de adoção vai se ver sem seguro de saúde.

Esses problemas norteiam a ação de Christopher Chantrey. Diretor do Comitê da Comunidade Britânica da França (BCC), organização criada em 1937, o executivo britânico de multinacionais residente no país desde 1973 uniu-se à Expat Citizen Rights in EU, uma rede de associações de britânicos que vem pressionando o governo de Theresa May. Como um dos líderes do movimento no continente, Chantrey foi ouvido por uma comissão do Parlamento em Westminster, quando explicou em detalhes o grau de incerteza que o Brexit trouxe à vida dos britânicos do continente e dos europeus que vivem no Reino Unido. 

"As pessoas estão estressadas porque têm muito a perder, não apenas aquelas que trabalham aqui há muito tempo e contribuem para a previdência. Mas há pessoas já aposentadas na França, porque a legislação da UE permite, e que arriscam perder seus direitos ", argumenta Chantrey. Segundo o executivo, grande parte da incerteza está atrelada ao governo de Theresa May, que segundo ele não foi nem transparente, nem generoso na primeira proposta apresentada à União Europeia sobre a sorte dos expatriados. " Para a UE, a situação dos indivíduos deve ser uma preocupação prioritária, mas as negociações têm se desenrolado de uma forma muito lenta. "

Não bastasse, diz Chantrey, a instabilidade do governo de Theresa May, que não obteve a maioria dos assentos do Parlamento na eleição de 8 de junho, empenhou ainda mais o futuro dos britânicos. "Normalmente nessa situação o governo tentaria trocar de liderança, mas nesse momento seria uma situação muito delicada ", lamenta.

Para Chantrey, o trabalho das organizações tem sido esclarecer a opinião pública, mas também os membros do Parlamento, sobre as reais implicações do Brexit. "Há um grande problema de educação dos parlamentares, que não entendem coisas muito simples, como seguro saúde de pessoas que vivem fora do país. Imagine o que entendem das grandes questões econômicas complexas… ", admira-se.

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Gérard Hocmard, francês e delegado-geral da Associação França-Grã-Bretanha, é testemunha da angústia de parte dos membros da comunidade. " Por isso muitos se questionam sobre a possibilidade de mudarem de nacionalidade para permanecerem em definitivo na França ", conta. 

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