14 de dezembro de 2021 | 11h54
Atualizado 14 de dezembro de 2021 | 21h20
BOGOTÁ - Ao menos dois policiais e um civil morreram na manhã desta terça-feira, 14, após duas explosões no aeroporto internacional de Cúcuta, na Colômbia, próximo da fronteira com a Venezuela. As detonações fizeram a alta cúpula do governo colombiano descrever a ação como um “ataque terrorista”.
A primeira detonação aconteceu quando um suposto terrorista conseguiu passar pela grade que separa as instalações do aeroporto e a pista de pouso. O artefato explodiu quando ainda era carregado. Segundo o relato da polícia, os restos mortais do homem ficaram espalhados pelo local – ele foi a única vítima da primeira explosão.
A segunda detonação ocorreu quando dois agentes do esquadrão antibombas da Colômbia inspecionavam uma área do aeroporto e encontraram uma mala. “Nossos especialistas antiexplosivos, ao fazerem o reconhecimento da área, identificaram uma maleta que também explodiu e causou a morte dos dois”, informou o chefe da Polícia Metropolitana de Cúcuta, coronel Giovanni Madarriaga.
O presidente colombiano, Iván Duque, repudiou as explosões no aeroporto de Cúcuta, que classificou como um "covarde ataque terrorista". Duque ainda garantiu que polícia e Exército estão coordenando as "ações imediatas para encontrar os responsáveis" pelo atentado.
O ministro colombiano da Defesa, Diego Molano, também condenou a ação e se referiu a ela como um “atentado terrorista”, sugerindo que ele poderia ter sido planejado em território venezuelano. Segundo Molano, grupos rebeldes colombianos operam livremente na Venezuela. “Rejeitamos e condenamos esse ato terrorista que tem, como sempre, propósitos de desestabilizar a Colômbia”, disse.
Molano lembrou que em Cúcuta e seus arredores operam o Exército de Libertação Nacional (ELN) e dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). “Essas organizações, muitas vezes, planejam, financiam e desenvolvem ataques em território venezuelano e depois buscam cometê-los em território colombiano, infelizmente”, declarou o ministro, em entrevista à emissora Caracol.
As explosões ocorreram numa das regiões mais divididas da Colômbia, tornando obscuras tanto as motivações do atentado quanto sua autoria. Segundo Paulo Ramirez, cientista político da ESPM-SP, a região é disputada por forças dissidentes das Farc, que se recusaram a assinar o acordo de paz de 2016, por chefes de cartéis de drogas, que tentam recuperar parte do poder, e pelas elites agrárias insatisfeitas com o crescimento da esquerda na campanha das eleições presidenciais de maio de 2022.
“O presidente colombiano, Iván Duque, se apressou a divulgar que seria um atentado terrorista”, disse Ramirez. “Mas há uma série de elementos interessados em desestabilizar a situação atual.”
Duque apoia a candidatura de Óscar Iván Zuloaga, do partido Centro Democrático, o mesmo do ex-presidente Álvaro Uribe, de maioria conservadora. A candidatura de esquerda é liderada pelo senador e ex-guerrilheiro do M-19, Gustavo Petro, atualmente à frente nas pesquisas. “Muitos produtores rurais que ajudaram os governos americano e colombiano a combater a guerrilha e os traficantes estão insatisfeitos com a ascensão da esquerda”, afirmou Ramirez. “Essa, portanto, pode ser uma ação política.”
Pelo menos cinco ataques, incluindo o de ontem, foram registrados na região fronteiriça com a Venezuela desde meados do ano. No mais grave deles, um foguete disparado do solo atingiu o helicóptero em que viajava o presidente Duque, quando a aeronave se aproximava do aeroporto de Cúcuta, em 25 de junho. Nem o presidente nem seus assessores ficaram feridos./ AFP e EFE
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