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Expurgados cubanos admitem ''erros''

Em cartas semelhantes, ex-chanceler e ex-vice-presidente renunciam a cargos no governo e no PC e juram lealdade a Fidel

Por AFP , Reuters e HAVANA
Atualização:

Afastados de seus cargos na segunda-feira, Carlos Lage, ex-secretário executivo do Conselho de Ministros de Cuba, e Felipe Pérez Roque, ex-chanceler do país, renunciaram a todos os postos que ainda ocupavam no governo e no Partido Comunista. Em cartas endereçadas ao presidente Raúl Castro na terça-feira e publicadas ontem nos jornais Granma e Juventude Rebelde, os dois disseram reconhecer seus "erros" e admitiram "total responsabilidade" por eles. Os textos, porém, não especificam quais foram os "erros". Os documentos foram divulgados dois dias depois de o líder cubano Fidel Castro ter justificado a ampla reformulação do gabinete feita por seu irmão e acusado os dois, indiretamente, de excesso de "ambição" e conduta "indigna". Raúl nomeou oito nove ministros e fundiu quatro ministérios em dois. O texto de ambas as cartas, embora usem palavras diferentes, tem o mesmo teor e segue um padrão idêntico. No primeiro parágrafo os líderes apresentam a renúncia, em seguida admitem os "erros" e, no final, reafirmam sua lealdade à revolução, a Fidel e a Raúl. "Reconheço os erros cometidos e assumo a responsabilidade", diz a carta de Lage. "Reconheço plenamente que cometi erros (...) assumo minha total responsabilidade por eles", afirma a carta de Pérez Roque, que começa com um "Querido Raúl". O reformista Lage, de 57 anos, responsável pela política econômica para combater a crise dos anos 90, renunciou à vice-presidência do Conselho de Estado, a integrar o Birô Político e o Comitê Central do Partido Comunista, assim como à cadeira de deputado. No texto enviado a Raúl, diz que continuará servindo à revolução "em meu novo posto de trabalho", sem citar onde passará a trabalhar. Pérez Roque, de 44 anos, considerado mentor da política externa que tirou Cuba do isolamento nos últimos anos, renunciou à sua vaga no Conselho de Estado, no Comitê Central do PC e à cadeira de deputado. Há dez anos como chanceler, ele era o único funcionário do alto escalão a ter nascido após a Revolução Cubana, de 1959. Lage e Pérez Roque, integrantes da chamada "ala jovem" do regime, foram muito próximos a Fidel e estiveram cotados como possíveis sucessores do líder quando ele renunciou ao poder, em 2008. Desde que foram afastados, Lage e Pérez Roque têm evitado aparecer em público. Apenas na terça-feira alguns jornalistas viram Lage junto a seu sucessor, o general José Amado Guerra, no palácio do governo. MOTIVOS Apesar da publicação das cartas, muitos cubanos ainda se perguntam quais foram os reais motivos do afastamento. "Parece um novela, com capítulos e subtramas", afirmou um estudante universitário em Havana, que pediu anonimato. "Temos o direito de saber quais foram esses erros, só assim entenderemos toda a história." "Custa-me entender porque eu tinha Lage e Felipe em um pedestal", diz a aposentada María López. "Foram homens que acumularam méritos e pareciam dedicados à revolução." A referência de Fidel em seu artigo a "inimigos externos" alimentou ainda mais especulações. "Talvez seja algum caso de corrupção, mas não acho que Lage tenha traído o governo", disse Juan Carlos Hernández, aposentado, que trabalhou para Lage quando ele era ainda um líder estudantil.

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