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Extrema direita ocupa poder lentamente na Europa

Por Agencia Estado
Atualização:

Aos poucos a extrema direita vai ocupando mais assentos nos parlamentos europeus. Assim, torna-se um aliado indispensável a muitos governos conservadores. Na Áustria, Itália, Dinamarca, Potugal, Bélgica e agora na França, os radicais conquistam parcelas significativas do eleitorado, e, crescentemente, espaço nas decisões dos governos nacionais. A ultradireita nacionalista não é novidade nas democracias européias. Jean-Marie Le Pen, por exemplo, foi eleito deputado em 1956 e em 1972 criou o Front National. Mas foi em 1988 que ele recebeu em uma eleição presidencial cerca de 15% dos votos, quando afirmou que o holocausto foi "um detalhe na história da Segunda Guerra Mundial". No domingo, quando foi o segundo candidato mais votado com posições mais moderadas, levou 17%, apenas dois pontos porcentuais menos que o primeiro colocado, o atual presidente conservador Jacques Chirac. Em outros países europeus, a história é semelhante. Na última década, os radicais de direita vêm ganhando espaço com um discurso contra a União Européia, a globalização e os estrangeiros, especialmente os imigrantes e exilados do Terceiro Mundo. Na Áustria, o FPÖ (Partido Livre) de Jörg Haider participa da coalizão que governa o país desde 2000 com 52 assentos de um total de 183 na Câmara dos Deputados, o mesmo número que o tradicional Partido Popular (ÖVP). Haider chegou a elogiar algumas políticas nazistas durante a campanha e teve de abdicar da chefia do partido para a formação do governo. O FPÖ foi o primeiro partido de ultradireita a chegar ao poder, causando reação exaltada dos parceiros europeus. Ironicamente, foi a França que coordenou os esforços para a criação de sanções políticas contra a Áustria, que duraram sete meses. O governo italiano também precisou dos radicais para uma composição. Pela segunda vez, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi (Forza Italia) aliou-se à relativamente mais moderada Alleanza Nazionale, de Gianfranco Zini, e à Lega Nord, de Umberto Bossi, que faz declarações polêmicas contra a União Européia "stalinista", comunistas e homossexuais. Em outros países, mesmo sem fazer parte das alianças governamentais, os partidos de extrema direita têm uma participação relevante nas votações parlamentares e nas decisões do governo. Na Dinamarca, por exemplo, a coalizão de centro-direita não tem maioria no Congresso, e muitas vezes precisa negociar com o Partido Popular de Pia Kjarsgaard, e o país acabou adotando leis mais restritivas à imigração e ao asilo político. O partido, que quer limitar o número de muçulmanos no país, chegou a publicar no ano passado uma lista no principal jornal do país com os nomes de 5 mil cidadãos recém-naturalizados, "para que a população soubesse quem são esses novos dinamarqueses, que não são nem europeus nem americanos". Também o novo governo conservador de Portugal, eleito em março, precisou da direita radical. De 230 cadeiras na Assembléia Nacional, os social-democratas venceram 105, e acabaram coligados com o Partido Popular, que teve 14. O PP, como todos os partidos de direita na Europa, também centra seu discurso contra a imigração. O belga Filip Dewinter, do Vlaams Blok, que representa a minoria flamenga do país e aumentou sua participação nas eleições locais 2000, comemorou a eleição do colega francês Le Pen, que considera "irmão em armas". O Vlaams Blok conseguiu ganhar a prefeitura de Antuérpia nas últimas eleições. As próximas eleiçöes na União Européia serão em 15 de maio na Holanda. O país mais liberal da Europa também tem seus radicais de direita, representados por Pim Fortuyn, que venceu as eleições locais em Roterdã e espera ganhar pelo menos 18 dos 150 assentos no Parlamento do país. Ele nega qualquer identificação com Jean-Marie Le Pen, mas centra o discurso contra exilados estrangeiros, drogas, desemprego e direitos dos holandeses. Prática do discurso radical "O crescimento da extrema direita em muitos países europeus é uma tendência clara nos últimos anos", afirma Ruud Koopmans, chefe do Grupo de Pesquisa Comunicação Política e Mobilização do WZB, o centro de Pesquisas de Berlim em Ciências Sociais. Para o analista, os três grandes temas que vêm mobilizando o populismo de direita são a imigraçäo, a insegurança e a homogeneidade dos partidos políticos tradicionais. "Os ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos aumentaram a sensação de insegurança e a hostilidade contra os estrangeiros, que era um tema ausente nas políticas nacionais". Para ele, o grau de conservadorismo das últimas medidas contra os estrangeiros, até em países mais liberais como a Holanda, é conseqüência do crescimento da direita radical. "A política tradicional já discute algumas questões em termos que seriam impensáveis há poucos anos." Outro aspecto que assusta os mais moderados são os ataques à integração européia, desde a implementação do euro até a entrada dos novos membros da Europa Oriental, marcada para 2004. "Nos próximos anos, poderemos ver retrocessos nesses temas", afirma. E prossegue, "como a atuação de partidos antigos de esquerda e direita tornou-se muito semelhante, o eleitor já não percebe nenhuma diferença, vota nos radicais e enfraquece as forças políticas tradicionais, que acabam tendo de ceder às pressões populistas." Radicais alemães O país que mais leva a sérios seus radicais de direita na Europa é a Alemanha. Há vários recursos legais e jurídicos para evitar que eles cheguem ao poder no país. Constitucionalmente é crime brandar frases de cunho nazista ou usar os símbolos do regime de Hitler, inclusive pela Internet. Os partidos ultra-reacionários que surgem acabam proibidos, e o Estado incentiva iniciativas de combate a ideologias discriminatórias de várias maneiras. Apenas os partidos que atingem 5% do voto nacional garantem representação no Congresso, o que também limita o surgimento de fenômenos extremistas. De qualquer maneira, para as eleições de 22 de setembro, o atual governo de centro-esquerda vem caindo nas pesquisas de opinião. Para Sebastian Reißig, coordenador da Aktion Zivilcourage Pirna, ONG que combate o radicalismo de direita na região alemã que concentra grande parte dos neonazistas, muitos aderem a essas ideologias por pressão do grupo e pelas respostas fáceis que oferecem a problemas prementes. "No caso dos jovens, muitos no interior, que vivem em vilas pequenas onde nem há estrangeiros, acabam aceitando a extrema direita porque os demais colegas estão nos movimentos e existe uma visão discriminatória simples, que põe a culpa no outro. Quando o ativista vai às escolas públicas para conversar com adolescentes sobre o assunto, consegue que muitos mudem de idéia?.

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