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Falar de textos antigos gera complicações, diz Dalai Lama ao Papa

"É melhor falar da realidade atual. Se nos remetemos a textos antigos, isso gera muitas complicações", afirmou o líder espiritual, sobre a polêmica criada no mundo islâmico pelas palavras do pontífice

Por Agencia Estado
Atualização:

O Dalai Lama, líder espiritual tibetano no exílio, considerou neste domingo que a recente polêmica criada no mundo islâmico pelas palavras do Papa Bento 16 sobre Maomé se deve ao fato de que falar de textos antigos "gera muitas complicações". Em entrevista coletiva em Nova Délhi, o líder tibetano revisou assuntos como as reivindicações de seu povo, as difíceis relações com a China, seu longo exílio na Índia, sua possível retirada, a harmonia religiosa e até um concurso de Miss Tibet, tudo isso sem deixar de rir. Para Tenzin Gyatso, o verdadeiro nome do Dalai Lama, é "errônea e perigosa" a idéia de que existe atualmente um choque de civilizações, algo que nasce, segundo ele, da "generalização" da atuação de poucos muçulmanos pela totalidade de fiéis da religião. "É injusto quando falamos disso porque se trata de terroristas e é preciso defender os muçulmanos; a idéia de um choque de civilizações é errônea e perigosa", afirmou em entrevista coletiva na Associação de Jornalistas Estrangeiros de Nova Délhi. Neste sentido, o Dalai Lama foi perguntado pela polêmica criada no mundo islâmico pelas palavras do Papa Bento 16 sobre os muçulmanos, nas quais, remetendo-se a um texto medieval, falou de coisas "más e desumanas" de Maomé, como sua "ordem de divulgar, usando a espada, a fé que pregava". Para o Dalai Lama, o problema está em se referir a "textos antigos". "É melhor falar da realidade atual. Se nos remetemos a textos antigos, isso gera muitas complicações. O passado é muito incivilizado, mas no século 21 temos que analisar os eventos de um ponto de vista global", afirmou. O Dalai Lama, de 71 anos, Prêmio Nobel da Paz em 1989, também reiterou que seu povo renunciou à independência da China e agora só quer uma maior autonomia cultural e religiosa, uma opção que considera ser possível, apesar de estar em uma área "totalitária". A China ocupou o Tibet em 1951 e oito anos depois reprimiu uma revolta tibetana, o que forçou o exílio do Dalai Lama para a Índia. O regime de Pequim permite uma tímida autonomia à região tibetana, considerada insuficiente por seu líder. O Dalai Lama reconheceu que o Tibet pode "se beneficiar" ao permanecer dentro da China, mas Pequim não acredita que sua renúncia à independência seja verdadeira. Apesar da indiferença chinesa, o Dalai Lama voltou a expressar seu desejo de retornar ao Tibet e aceitar "uma retirada permanente" que levaria à "transferência" de sua autoridade a instituições democraticamente escolhidas. "Estou esperando esse dia... Chegará o momento da minha retirada total", disse o Dalai Lama, cujo nome significa "Oceano de Sabedoria". O líder tibetano vive há quase meio século exilado em Dharamsala, no Estado indiano de Himachal Pradesh, nos pés do Himalaia, o que o torna "o hóspede mais velho da Índia", segundo ele. Na próxima semana será realizado em Dharamsala um concurso de Miss Tibet, mas isso, apesar de ter gerado uma certa polêmica entre a comunidade tibetana, não é "algo importante" para o Dalai Lama. "E por que não um concurso de Mister Tibet?", perguntou o líder tibetano, entre seus constantes risos e os dos jornalistas que foram à entrevista coletiva.

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