Falta de oxigênio leva hospitais da Índia ao colapso; EUA e Europa enviam ajuda

Americanos e europeus prometem respiradores e matéria-prima para vacinas, em um reconhecimento de que o vírus só poderá ser derrota com um esforço global

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Por Redação
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NOVA DÉLHI - A nova onda de contaminações de coronavírus na Índia vem se transformando rapidamente no pior pesadelo dos infectologistas que lutam contra a pandemia. No fim de semana, a falta de oxigênio levou os hospitais ao colapso. Diante da imagem de pacientes morrendo nos corredores e da disseminação de uma nova cepa, EUA e Europa resolveram agir.

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Os EUA anunciaram o envio de equipamento médico e matéria-prima para vacinas. A porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Emily Horne, prometeu kits de teste rápido e Anthony Fauci, chefe da força-tarefa da Casa Branca, analisa a liberação de doses da vacina da AstraZeneca. “Os EUA estão determinados a retribuir a ajuda que a Índia nos deu no início da pandemia, quando nossos hospitais estavam lotados”, afirmou o presidente, Joe Biden. 

Diante da catástrofe, o alarme também soou nas capitais europeias. O Reino Unido prometeu enviar equipamento médico. O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou o envio de respiradores. Angela Merkel disse que a Alemanha também está pronta para fornecer ajuda de emergência. “A luta contra a pandemia é uma luta comum”, disse a chanceler alemã.

Crematório em Nova Délhi: registro de corpos incinerado indica que número de mortes é muito maior do que o relatado pelo governo indiano Foto: Atul Loke/The New York Times

Por trás da preocupação com o avanço da pandemia na Índia está o medo de que a situação escape do controle e atrase o retorno à normalidade na Europa e nos EUA – uma visão cada vez mais consensual de que o problema é muito mais global do que de países individualmente. 

Ontem, com 350 mil infecções em 24 horas, a Índia bateu o recorde de casos diários pelo quarto dia seguido. Mais da metade de todas as novas contaminações do mundo vem da Índia. Especialistas dizem, no entanto, que os números oficiais são apenas um esboço da realidade. Como exemplo, eles citam o número de mortos. Ontem, a Índia registrou 2,8 mil óbitos – um número parecido com o do Brasil. 

No entanto, registros dos crematórios levantam suspeitas de que a tragédia é maior. No sábado, em Bhopal, funcionários do crematório Bhadbhada Vishram Ghat disseram ter incinerado mais de 110 pessoas, enquanto o número oficial de mortos na cidade foi de apenas 10. “O vírus está engolindo a população da cidade como um monstro”, disse Mamtesh Sharma, que trabalha no local. 

Em outro crematório, em Ahmedabad, as piras brilhantes iluminam a noite da cidade, queimando 24 horas por dia, como uma usina que nunca para. Suresh Bhai, funcionário do local, disse que nunca viu tantos mortos. Mesmo assim, nos registros, ele não relata a covid como causa. “Doença”, disse Suresh. “Isso é o que escrevemos.” Quando questionado sobre o motivo, ele disse que era “ordem dos chefes”. 

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Indianos fazem fila para reabastecer cilindros de oxigênio em Nova Délhi Foto: AP

Especialistas dizem que o medo da reação popular pode estar fazendo com que políticos e administradores de hospitais estejam subnotificando o número de mortos. Parentes das vítimas também estariam escondendo a ligação das mortes com a covid, muitas vezes por vergonha.

“É um massacre completo dos dados”, disse Bhramar Mukherjee, epidemiologista da Universidade de Michigan, que monitora a Índia de perto. “Com base em toda a modelagem que fizemos, acreditamos que o verdadeiro número de mortes é de duas a cinco vezes o que está sendo relatado.”

Especialistas temem que o avanço da pandemia esteja sendo causado, pelo menos em parte, por uma nova variante conhecida como “duplo mutante” – ela contém mutações encontradas na cepa identificada na Califórnia, no início do ano, e na da África do Sul. Ainda assim, eles alertam que é cedo para saber o tamanho do estrago que a cepa está fazendo na Índia e não descartam também o papel do governo do premiê, Narendra Modi, que não adotou medidas contra a covid. / NYT e REUTERS

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