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Falta frente comum contra Teerã

Por Gilles Lapouge
Atualização:

Durante esta semana, diversos países estarão reunidos em Genebra para estigmatizar o racismo, o antissemitismo, o anti-islamismo. Essa celebração da tolerância, do amor pelos outros, da aceitação das diferenças, é patrocinada pelas Nações Unidas, o que lhe confere autoridade e universalidade. O problema é que o encontro já começa prejudicado. A primeira surpresa é que os diplomatas encarregados de pilotar as reuniões são singulares: o relator é um cubano; a presidente do comitê de preparação é líbia; o moderador é russo. Rússia, Cuba e Líbia, uma bela coleção de países "tolerantes". Poderíamos acrescentar a ela um palestino, um tigre tâmil, um soldado chinês em serviço no Tibete. E porque não Goebbels ou Pol Pot! E como um "antirracista" de choque, o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, está presente em Genebra, o quadro então fica completo. Antes mesmo de ele fazer seu pronunciamento, ontem, já prevíamos seu discurso: "Os israelenses são racistas. Ora, estamos à caça dos racistas. Portanto, devemos destruir o Estado de Israel." Diante da ameaça de a conferência acabar se transformando numa "poção venenosa", muitos países desistiram de comparecer, entre eles Israel, principal alvo de ataques antirracistas, além de Estados Unidos, Canadá, Austrália, Itália, Holanda e Polônia. O boicote americano é compreensível. Mas tem o inconveniente de fornecer aos inimigos algumas armas, tendo como base a seguinte alegação: "Obama é um homem gentil, tem sempre a mão estendida, é sempre sorrisos, mas tudo isso não passa de uma comédia. Na realidade, ele é uma outra versão, menos estúpida e menos obscena, de George W. Bush. Mas basta o Ocidente correr o risco de ser questionado por seu passado colonial e escravagista e seu apoio a Israel, para recuar rapidamente e assumir a mesma posição de Bush; Obama é sionista e detesta o Islã. É um discurso sem fundamento, mas que vem sendo ouvido em muitos países muçulmanos. E permite a um delirante Ahmadinejad afirmar: "Então, vejam vocês. Nós iranianos, como odiamos o racismo, estamos presentes em Genebra, enquanto que os Estados Unidos, que no fundo são um país racista, não tiveram a coragem de vir a Genebra." Para evitar esse tipo de coisa a França, depois de muita hesitação, decidiu participar dessa cúpula. Mas o embaixador francês, Jean-Baptiste Mattei - assim como outros cerca de 30 delegados de vários países - deixou a reunião assim que Ahmadinejad começou a atacar o povo judeu e Israel. Quem tem razão? Obama, que resolveu deixar a "cadeira vazia"? Ou Nicolas Sarkozy, que preferiu enfrentar a má-fé de alguns delegados? Difícil saber. O certo é que esse encontro antirracista, como ocorreu com o primeiro realizado em Durban, África do Sul, é uma terrível armadilha. Os países mais suspeitos, por meio de um assombroso jogo diplomático, conseguiram assumir o papel de nações "tolerantes" e antirracistas, e censurar os países ocidentais que acusam de, eles sim, praticar o racismo. A melhor resposta às perfídias do Irã e seus comparsas teria sido criar uma "frente comum" de lealdade e honestidade, contra a mentira e a duplicidade. E essa frente só seria eficaz se agrupasse a totalidade dos países europeus e, se possível, das Américas. Não foi o caso. * Gilles Lapouge é correspondente em Paris

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