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Família chilena quer processar Kissinger

Por Agencia Estado
Atualização:

Nos últimos dois anos, o ex-secretário de Estado Henry Kissinger ignorou intimações de tribunais da Inglaterra, Espanha e Chile interessados em saber mais sobre o envolvimento e responsabilidade dos Estados Unidos na morte de militantes da esquerda chilena nos primeiros anos da ditadura do general Augusto Pinochet, que derrubou o presidente socialista Salvador Allende num golpe violento instigado por Washington, há 28 anos. Agora, Kissinger poderá virar réu em casa, se a Justiça americana acolher o processo que a família do ex-general chileno René Schneider pretende iniciar em breve contra ele, nos EUA, segundo revelou neste domingo o programa 60 Minutes, da rede CBS. Schneider, que era contrário ao envolvimento dos militares na política, morreu no dia 24 de outubro de 1970 em conseqüência dos tiros que levara dois dias antes, quando militantes de extrema-direita tentaram seqüestrá-lo, numa manobra calculada para provocar as Forças Armadas a darem um golpe e impedir a posse de Allende, que havia sido eleito no mês anterior. Documentos inéditos Documentos oficiais inéditos obtidos pela organização não-governamental National Security Archives provam o envolvimento da CIA e de Kissinger, então conselheiro de Segurança Nacional do presidente Richard Nixon, e contrariam testemunho que ele deu a uma comissão do Senado dos EUA em 1975, no qual disse que Washington cortou todas as ligações com golpistas de 70 no dia 15 de outubro de 1970 - ou seja, uma semana antes da tentativa de seqüestro de Schneider. "No dia 16, a CIA mandou uma mensagem para o chefe do escritório da CIA em Santiago, que citava Kissinger na primeira linha como fonte da instrução e reafirmava que a promoção do golpe para impedir a posse de Allende continuava a ser a política de Washington", disse Peter Kornbluh, do National Security Archives. De acordo com um outro telegrama mostrado pela CBS, dias depois da morte de Schneider, o chefe do escritório da CIA na capital chilena recebeu um novo telegrama de congratulações pela tentativa de golpe. René Schneider Jr., filho do general morto, justificou para a CBS a abertura do processo contra Kissinger, dizendo que ele e sua família têm "um dever para com a humanidade de falar sobre o caso", porque "seria irresponsável silenciar". Kissinger declinou de pedido de entrevista da CBS.

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