Família de dissidente chinês rejeita que ele seja submetido a respiração artificial

Liu Xiaobo está internado para tratar um câncer de fígado em fase terminal; hospital disse que ele sofreu uma múltipla falência de órgãos

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PEQUIM - A família do dissidente chinês e vencedor do prêmio Nobel da Paz, Liu Xiaobo, rejeitou que ele seja submetido a uma respiração artificial, anunciou nesta quarta-feira, 12, o Hospital Universitário Nº. 1 de Shenyang, onde ele está internado em razão de um câncer de fígado em fase terminal.

Após três dias de tratamento intensivo, "o paciente está em insuficiência respiratória". "O hospital explicou à família a necessidade de realizar uma intubação traqueal" para submetê-lo à respiração artificial, mas a família rejeitou, informou o centro médico.

Em um vídeo divulgado no início da semana, Liu Xiaobo aparece muito magro, cercado por médicos que conversam com sua mulher e colegas Foto: AFP PHOTO

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O hospital, que algumas horas antes informou que Liu, de 61 anos, sofreu uma falência múltipla de órgãos, afirmou que o funcionamento do fígado se deteriorou apesar de três dias de tratamentos para combater a infecção.

"Não temos nenhum modo de receber notícias diretamente dele ou de sua família, mas segundo o comunicado do hospital (...), é possível que Liu Xiaobo não sobreviva às próximas 24 horas", declarou o dissidente chinês Ye Du.

O governo alemão solicitou que a China permita que o dissidente deixe o país e se prontificou em tratá-lo. "Liu e sua mulher expressaram claramente o desejo de deixar a China. A Alemanha está pronta para acolher e fornecer a ele o tratamento médico", declarou o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert.

"A situação de Liu e de sua família só pode ser descrita como dramática, razão pela qual o governo alemão pede aos líderes chineses que priorizem o aspecto humanitário deste caso e autorizem sem demora sua partida" ao exterior, acrescentou.

Em caso de morte na China, Liu Xiaobo se tornará o primeiro Nobel da Paz a morrer privado da liberdade desde o pacifista alemão Carl von Ossietzky, que morreu em 1938 em um hospital quando estava detido pelos nazistas. O opositor está hospitalizado em liberdade condicional, depois de passar oito anos na prisão para cumprir sentença por "subversão".

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A China se opõe à ideia de Liu viajar ao exterior para receber tratamento, alegando que seu estado de saúde impede sua saída. Na semana passada, dois médicos ocidentais que visitaram o paciente avaliaram que ele teria condições de deixar o país.

Na terça-feira, o governo americano apresentou uma proposta à China para receber o dissidente e lhe oferecer tratamento médico. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, respondeu que os outros países devem respeitar a soberania judicial chinesa e "não interferir nos assuntos internos da China sob pretexto de um caso individual".

Na segunda-feira, o Hospital Universitário N.º1 de Shenyang informou que Liu se encontrava "em estado crítico". De acordo com a instituição, o paciente sofreu um choque séptico, uma infecção abdominal e foi submetido à diálise.

Direitos humanos

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Antes do último boletim médico, grupos de defesa dos direitos humanos questionaram as razões para os relatórios diários, considerando a possibilidade de as autoridades estarem manipulando as informações.

"Como as autoridades controlam todas as informações relativas ao estado de saúde de Liu Xiaobo, é difícil verificar a veracidade dos comunicados publicados pelo hospital na internet", disse o diretor chinês da Anistia Internacional, Patrick Poon. "Alguém poderia perguntar de maneira legítima se as autoridades não publicam essas informações para justificar sua recusa a permitir que ele deixe o país", completou.

"Não sabemos em que medida são boletins médicos profissionais ou informações manipuladas com fins políticos", declarou Maya Wang, da ONG Human Rights Watch.

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Em um vídeo divulgado no início da semana, Liu aparece muito magro, cercado por médicos que conversam com sua mulher e colegas. Nas imagens, o médico alemão Markus Buchler diz à mulher do dissidente, Liu Xia, que seus colegas chineses estão "plenamente dedicados" aos cuidados de seu marido.

Ativistas dos direitos humanos também criticaram a difusão dessas imagens. "É evidente que a China tem interesse em fazer crer que Liu Xiaobo está sendo bem tratado, quando, na realidade, se porta de maneira desumana", declarou a diretora da Human Rights Watch na China, Sophie Richardson, que denunciou "uma grotesca propaganda". / AFP

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