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Famílias de reféns das Farc criticam opção militarista de Uribe

Após a ruptura do diálogo entre o presidente e as FARC, famílias se preocupam com a idéia de um resgate militar; a última tentativa resultou na morte de dez reféns

Por Agencia Estado
Atualização:

Aproximadamente 30 organizações cívicas colombianas pediram para a população se manifestar, nesta terça-feira, contra a "opção militarista" do presidente Álvaro Uribe, de direita. Na sexta-feira, o chefe de Estado deu a ordem ao exército de liberar, custe o que custar, os reféns nas mãos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC, extrema esquerda), ao anunciar a ruptura do tímido diálogo iniciado com a guerrilha. A informação é do jornal Le Monde. As conversas a respeito da troca dos seqüestrados por guerrilheiros presos acabaram quando um carro-bomba explodiu em Bogotá na semana passada. No sábado, em Cali - a terceira maior cidade colombiana -, as famílias e amigos dos reféns já se manifestaram. Sacos de plástico pretos, em forma de cadáveres, foram colocados na frente da entrada da catedral da cidade, cada um com uma etiqueta branca escrita "socorrido pelo exército". As famílias não se esqueceram do drama de Urrao, quando uma operação de resgate se transformou em tragédia: os guerrilheiros assassinaram a sangue frio seus dez reféns antes de fugir. "Se os militares tentarem liberar nossos parentes, são os seus restos que nós iremos recuperar", afirma Angela de Perez, cujo marido foi seqüestrado em abril de 2002. As Farc mantém 58 reféns "políticos", entre os quais há soldados capturados nove anos atrás. "O mundo inteiro deve saber e reagir", pede Angela. Oposicionistas, defensores dos direitos humanos, padres, diplomatas e comitês de apoio à franco-colombiana Ingrid Betancourt, seqüestrada em 2002, uniram suas vozes às das famílias dos reféns para pedir a Uribe que reconsidere sua decisão. Insensível às suplicas, apoiado por boa parte da opinião pública, o presidente ainda subiu o tom de seu discurso. Em declaração inflamada feita neste sábado, Uribe chamou os guerrilheiros de "trapaceiros", "mentirosos", "bandidos" e "assassinos". "A comunidade internacional deve refletir. É mais lógico pedir a um governo honesto e democrático que negocie com quem coloca bombas, ou exigir que os terroristas liberem os seqüestrados?", perguntou em seu discurso. A ira presidencial e a decisão de romper o diálogo foi provocada pela explosão de um carro-bomba na última quinta-feira na universidade militar de Bogotá, que deixou dez feridos. A explosão foi atribuída às Farc, mas ninguém reconheceu a autoria do atentado. "Em matéria de guerra, a emoção é uma má conselheira. Uribe reagiu como queriam os inimigos do diálogo que colocaram a bomba", avalia o senador Gustavo Pedro (esquerda) que, sem excluir, coloca em dúvida a responsabilidade das Farc. Reativada por Uribe, a "guerra frontal contra o terrorismo" custa caro. Na segunda-feira, o ministro da Defesa Juan Manoel Santos tornou público um projeto de imposto sobre fortunas, com o propósito de financiar os esforços da guerra. Uma delegação americana, presidida pelo subsecretário de Estado dos Assuntos Políticos, Nicholas Burns, é esperada na Colômbia. Washington quer avaliar a cooperação militar fornecida a Bogotá.

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