Fantasma da recessão assombra hondurenhos

Vários países e entidades cortaram ajuda externa, que representa 30% do orçamento do país

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Por Roberto Lameirinhas
Atualização:

Como se não bastasse o impasse político que inquieta os hondurenhos desde o dia 28, o fantasma da recessão e do desemprego vem se somando ao pesadelo da população depois que uma série de nações e entidades internacionais anunciaram o corte da ajuda financeira a Honduras como forma de aumentar a pressão sobre o governo golpista. Os EUA já cortaram os US$ 16,5 milhões de repasse referente à cooperação militar e ameaçam interromper o envio de US$ 18 milhões mensais do programa de ajuda para o desenvolvimento do país. A União Europeia suspendeu o aporte de US$ 90 milhões. O orçamento do país para o atual ano fiscal é de US$ 1,5 bilhão - pelo qual a ajuda externa responde por mais de 30%. Como efeito imediato da turbulência política, estima-se que a receita da indústria do turismo tenha caído para menos da metade e projetos de expansão de empresas do setor de serviços estão congelados. "Ainda não há como quantificar as perdas em termos econômicos das últimas semanas, mas é certo que foram bastante significativas para um país de economia pequena como o nosso", disse o diretor da Comunidade Empresarial de Tegucigalpa, Enrique Vásquez, partidário do presidente de facto, Roberto Micheletti. "Mas poderemos recuperar essas perdas após a posse do presidente eleito em novembro e, enviando ao exterior um sinal firme de segurança jurídica, poderemos atrair mais investimentos." Mas entre microempresários e trabalhadores o otimismo é bem menor. "Não sei como fazer para pagar os salários de nossos dez empregados se o movimento continuar caindo", disse ao Estado Norberto Flores, dono de um restaurante do centro histórico da capital. Além da ajuda direta ao Tesouro, projetos sociais também são financiados por entidades estrangeiras. A Unesco, agência da ONU para a cultura, investe milhões de dólares na preservação de patrimônios da humanidade localizados em Honduras. A Care e a Oxfam também financiam programas no país. Todo esse dinheiro ajuda a movimentar a frágil economia hondurenha, que não tem muito mais para exportar do que café, banana e produtos têxteis. Para passar a impressão de que tudo vai bem economicamente, Micheletti tem promovido cerimônias - devidamente exibidas por todas as emissoras de TV - nas quais tem antecipado os repasses a municípios para que funcionários públicos recebam seus salários antes da data habitual de pagamentos. O chanceler do governo de facto, Carlos López Contreras, tem criticado a decisão da União Europeia de cortar a ajuda econômica. "Não posso entender como a UE, que ajudou a construir nosso sistema jurídico, coloque sua credibilidade em dúvida e se negue a compreender que o que houve aqui foi um processo de substituição de governo constitucional, que fortaleceu nossa democracia", disse na quarta-feira.

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