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Farc e governo colombiano discordam de prazo para assinar acordo de paz

Enquanto governo insiste em acordo final até 23 de março, guerrilheiros dizem ser praticamente impossível resolver todas as diferenças - mesmo 'com o pé no acelerador' - até essa data

Atualização:

HAVANA - O governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) retomaram nesta quarta-feira, 13, em Havana os diálogos de paz com o objetivo de acelerar as negociações, embora os dois lados discordem sobre a data-limite do 23 de março para assinar o acordo final, prazo que a guerrilha considera improvável.

"Estamos fazendo o impossível, mas há causas objetivas que certamente vão impedir que isso se dê em 23 de março. De ambas as partes, porque da parte do Estado há empecilhos tão importantes como é o esclarecimento e o desmantelamento do paramilitarismo", disse Milton de Jesús Toncel, o guerrilheiro "Joaquín Gómez".

O chefe negociador das Farc, Ivan Márquez (E), e sua equipe chegam em Havana para retomar diálogos de paz Foto: EFE/Alejandro Ernesto

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As palavras do comandante das Farc contrastam com as declarações feitas ontem pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, que indicou que os negociadores governamentais retornaram a Havana com a instrução de "colocar o pé no acelerador no processo" para poder assinar a paz no prazo de 23 de março.

Gómez também indicou que a insurgência tem "o acelerador ligado" desde o início do processo de paz, há mais de três anos, mas há assuntos "que saem do controle de suas mãos" e que impedirão o cumprimento dos prazos previstos.

O chefe negociador das Farc, "Ivan Márquez", já havia advertido através de sua conta no Twitter que é uma "leve ingenuidade" insistir em 23 de março como data-limite para o acordo final, devido à demora na aplicação no pacto sobre justiça transicional.

O comandante Gómez também lamentou atrasos em outros acordos conseguidos, como o compromisso adotado pelo governo em novembro de indultar 30 guerrilheiros das Farc, o que ainda não aconteceu. "O governo prometeu que indultaria 30 camaradas nossos, e deu a entender que para o Natal estariam em liberdade. Hoje a única coisa que há é uma demora sem nenhum tipo de justificativa", disse.

Perguntado sobre o 15º aniversário do "Plano Colômbia", o acordo entre Colômbia e EUA para a paz e o fortalecimento do Estado que estabelecia ajuda econômica americana para acabar com os cultivos ilícitos, Gómez afirmou: "o saldo foi morte, paramilitarismo, execuções extrajudiciais e pobreza".

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O presidente Santos irá, no próximo dia 4 de fevereiro, às celebrações em Washington pelo aniversário desse acordo bilateral. Ele foi convidado pelo presidente americano Barack Obama, que está apoiando esse novo processo de paz com as Farc com a nomeação do enviado especial Bernie Aronson.

Além disso, durante o ano fiscal 2014, os Estados Unidos concederam US$ 324,82 milhões (pouco mais de R$ 1 bilhão) em assistência total à Colômbia, e 70% dessa soma foi voltada para programas de paz e segurança.

"Me parece muito bom que Obama apoie. Assim como apoiaram e financiaram o Plano Colômbia, está muito bem que apoiem a saída política ao conflito social e armado que por mais de 50 anos sangrou o país", ressaltou Gómez.

A mesa de negociação de Havana iniciou nesta quarta as discussões sobre o último ponto da agenda, o fim do conflito, que inclui complexos assuntos como o cessar-fogo bilateral e definitivo e a entrega das armas por parte da guerrilha. Esses pontos estavam sendo previamente discutidos por uma subcomissão técnica composta por altos comandantes militares de ambas as partes.

As delegações encaram a reta final do processo de paz após carimbar, em 15 de dezembro, um transcendental acordo para a reparação das vítimas, que contempla a criação de uma jurisdição especial para os delitos contra a humanidade com base no reconhecimento da responsabilidade.

Em mais de três anos de conversas, o governo da Colômbia e as Farc já alcançaram acordos em quase todos os temas da agenda: propriedade da terra e desenvolvimento rural, participação política e erradicação de cultivos ilícitos e drogas. / EFE e REUTERS

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