Farc: Guerrilha não representa risco para países vizinhos

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Por Agencia Estado
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O integrante da comissão político-diplomática das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que participa do Fórum Social Mundial (FSM), Javier Cifuentes, disse esta sexta-feira que a organização guerrilheira não representa risco para os países vizinhos. Cifuentes defendeu, em uma agitada entrevista coletiva durante o FSM, na capital gaúcha, a soberania dos países latino-americanos e criticou as tentativas de intervenção militar dos Estados Unidos na região. Todas as incursões norte-americanas serão combatidas pelas Farc, mas sem ameaçar os demais países, já que cada um deve encontrar uma forma própria de reação, disse seu representante. "Não queremos a guerra, mas ela não nos assusta", resumiu. Cifuentes considerou que o Plano Colômbia representa "a ponta-de-lança militar dos Estados Unidos para impor a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) na América Latina". Para ele este "é o plano norte-americano para tomar a Amazônia, que é o maior potencial hídrico do mundo", analisou. Cifuentes afirmou que a água irá substituir o petróleo como fator de poder no mundo, o que justificaria o interesse dos Estados Unidos pela região. As Farc sustentam que cada país latino-americano deve encontrar sua própria forma de combater a Alca e a intervenção norte-americana. O Brasil, disse, decidiu fortalecer o Mercosul, que é uma forma de enfrentar a Alca. As Farc, segundo seu representante, rechaçam o narcotráfico e não têm nenhuma relação com ele, apenas com os camponeses que cultivam coca, a quem consideram "vítimas" do comércio organizado de drogas. "Na Colômbia, quem manipula o dinheiro do narcotráfico é a oligarquia colombiana", declarou. "O exército colombiano é o guarda-costas do narcotráfico", acrescentou. Cifuentes relatou que são necessários 18 produtos para fabricar cocaína, mas seu país só produz um deles, a planta de coca. No ano passado, as Farc propuseram, durante visita de representantes de 21 países europeus a seus acampamentos, que as nações ricas financiassem a conversão produtiva do campo, substituindo o cultivo de cocaína e heroína por outras culturas. "Os senhores norte-americanos disseram não: guerra." As Farc afirmam que possuem o apoio da "imensa maioria" do povo colombiano e "dos democratas do mundo". Cifuentes disse que a organização espera uma mudança na Colômbia por via pacífica, "mas se os Estados Unidos impõem a guerra, não a desejamos, mas vamos enfrentar". É muito grande a possibilidade de saída política para o conflito na Colômbia, segundo o representante das Farc, o que poderia ser obtido num prazo médio, segundo ele, que não detalhou esta previsão. Na definição das Farc, existe na Colômbia "um Estado terrorista" e não um Estado democrático, ao qual as forças guerrilheiras atribuem centenas de assassinatos, de jornalistas a sindicalistas. Cifuentes participa amanhã (27), às 14h30, de uma das mais de 400 oficinas do FSM, promovida pela Organização Não-Governamental (ONG) Comitê de Defesa da Soberania e Autodeterminação dos Povos, criada em Porto Alegre (RS) no ano passado.

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