FARC propõem comissão para mediar paz na Colômbia

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Por Agencia Estado
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As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) propuseram hoje, perante dezenas de diplomatas estrangeiros que participavam do encontro com os comandantes guerrilheiros na selva do sul da Colômbia, uma moratória no pagamento da dívida externa do país e uma modificação nos planos de erradicação de plantações ilícitas. Perante representantes de 23 países, da ONU, da União Européia (UE) e do Vaticano, o chefe da ala política do grupo rebelde, Alfonso Cano, advertiu a comunidade internacional sobre "a necessidade de uma moratória de cinco anos do pagamento dos serviços (juros) da dívida externa" colombiana, assegurando que o país gasta anualmente um terço de seu orçamento para pagar ao exterior os juros correspondentes aos US$ 20,25 bilhões de sua dívida pública. Cano destacou ainda a necessidade de modificações no programa de substituição das plantações de coca e papoula e de uma reforma agrária. Para tratar desses pontos, além da questão da dívida externa, acrescentou o chefe guerrilheiro, as FARC consideram oportuna a realização de três reuniões internacionais. As FARC também aceitaram a formação de uma comissão mediadora constituída por representantes de "países amigos" que ajudem a superar os obstáculos que surgem no processo de paz. Amanhã serão anunciados os nomes dos países que formarão parte da comissão, disse Andrés París, outro comandante das FARC. No encontro de hoje ainda serão tratados os temas da aplicação do Direito Internacional Humanitário e da situação econômica do país - marcada por um desemprego de 20,5% - como fator do conflito. Enquanto o delegado das Nações Unidas para a Colômbia, Jan Egeland, qualificava o encontro de hoje commo "histórico", o ministro do Interior colombiano, Andrés Estrada, o considerava "um êxito". A idéia de dar um maior papel à comunidade internacional surgiu do Acordo de Los Pozos, assinado em 9 de fevereiro pelo presidente Andrés Pastrana e o chefe máximo das FARC, Manuel Marulanda, que permitiu a reativação dos diálogos, unilaterlamente suspensos três meses antes pelos rebeldes do grupo. Marulanda, ao lado dos sete membros do secretariado das FARC, recebeu pessoalmente hoje os diplomatas que chegaram para a reunião em Los Pozos, na zona desmilitarizada cedida pelo governo à guerrilha para sediar as negociações de paz. Os EUA - que se recusaram a manter contato com a principal guerrilha colombiana enquanto não forem entregues os rebeldes responsáveis pelo assassinato de três ativistas americanos em 1999 - são os grandes ausentes deste encontro. Sem mencionar diretamente Washington, o comandante París qualificou a presença de países latino-americanos e europeus como um "contrapeso". Esta é a segunda vez que um grupo amplo de diplomatas se reúne com as FARC. Em junho de 2000, realizou-se um encontro do qual participaram 19 países, em que foram abordados os temas de plantações ilícitas e desenvolvimento alternativo. Fundadas em 1964, as FARC, de pequena milícia de camponeses inspirada em ideais comunistas, converteram-se na maior e mais antiga guerrilha da América Latina, contando atualmente com 16.500 homens em armas.

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