Favoritismo de Keiko Fujimori no Peru faz esquerda aderir a Kuczynski

A uma semana do segundo turno, filha de Alberto Fujimori lidera as pesquisas com vantagem de até sete pontos para o rival

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Por Luiz Raatz
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A uma semana do segundo turno da eleição presidencial no Peru, movimentos sociais ampliaram a mobilização contra a candidata Keiko Fujimori em uma tentativa de última hora para impedir o retorno do fujimorismo à presidência. A filha do ex-presidente Alberto Fujimori, que cumpre 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade e corrupção, lidera as pesquisas contra o centrista Pedro Pablo Kuczynski e é a favorita para levar a vitória nas urnas no próximo domingo.

Diversos grupos de esquerda e de vítimas do governo Fujimori (1990-2000) organizaram atos na última semana contra Keiko e recomendaram “voto crítico” em Kuczynski. Um novo ato contra a candidata foi convocado para terça-feira.

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Keiko conseguiu ampliar sua base de eleitores entre a população mais pobre, apesar de denúncias de narcotráfico contra membros de sua equipe de campanha. Ela promete não repetir os erros do pai, que, quando governou o Peru, fechou o Congresso, restringiu liberdades individuais e instituiu um programa de esterilização forçada de mulheres indígenas. 

Kuczynski, um ex-economista do Banco Mundial conhecido pelas posições liberais e também envolvido em denúncias de corrupção, não tem conseguido mobilizar apoio suficiente para tirar eleitores de Keiko. No último debate, na semana passada, ele atacou a herança de Fujimori e a rival respondeu que “ele não debatia com o pai, mas com ela”. 

O coletivo Mulheres Resistência pregou o voto crítico em Kuczynski e acusou Keiko de tentar instaurar um “narcoestado” no Peru, em virtude da denúncia divulgada pela TV Univisión de que um de seus assessores, Joaquín Ramírez, estaria sendo investigado pela DEA, a agência antidrogas do governo americano. A candidata nega qualquer irregularidade ou vínculos com o narcotráfico.

“Fujimori pretende instalar um narcoestado no Peru”, disse a porta-voz do coletivo Sandra de la Cruz. “As mulheres não querem votar pela corrupção e pelo crime.” 

Ela defendeu o voto no rival da candidata, mas fez exigências. “Queremos que Kuczynski se comprometa com nossa agenda, sobretudo o respeito à democracia e aos direitos trabalhistas”, disse Sandra.

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Já a ONG Estudos Para a Defesa da Mulher pediu que a Procuradoria-Geral da República divulgue antes das eleições as investigações sobre o programa de esterilizações forçadas de indígenas durante os anos do governo Fujimori.

Diferenças. “São duas propostas que, em termos econômicos, são muito parecidas. O debate tem se dado no campo da democracia e dos direitos humanos. Keiko representa um passado que, de alguma maneira, foi autoritário e violou direitos”, diz o cientista político Mauricio Zavaleta, da Pontifícia Universidade Católica do Peru. 

Na avaliação do analista, no entanto, o risco de um retorno ao fujimorismo precipitou uma mudança de posição da esquerda e dos movimentos sociais ao longo da campanha do segundo turno. Se num primeiro momento, após a derrota da deputada Veronika Mendoza, que perdeu o segundo lugar para Kuczynski, muitos grupos defenderam o voto nulo, paulatinamente essa percepção mudou e a mobilização aumentou nos últimos dias. 

“Primeiro, se colocaram contra o modelo econômico dos dois candidatos. Mas na última semana defenderam que não se votasse nem em Keiko nem em branco ou nulo”, acredita Zavaleta, que, no entanto, duvida da eficácia da mobilização. 

“É difícil que a esquerda contribua com votos. (o presidente Ollanta) Humala decepcionou muito e não tem a organização e base suficiente para ser decisiva. Me parece difícil que consigam”, diz.

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