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Favorito, Correa encerra campanha criticando a imprensa do Equador

Foto do author Luiz Raatz
Por Luiz Raatz e QUITO
Atualização:

O presidente licenciado do Equador, Rafael Correa, encerrou ontem sua campanha pela reeleição com um comício para cerca de 15 mil pessoas na periferia de Quito. Em seu discurso, Correa criticou a oposição, a imprensa equatoriana e disse que os militantes que compareceram ao evento eram a prova de que a campanha não é apática. "Não se enganem. Não temos oposição democrática nesse país. A manipulação mediática quer fazer crer que a campanha é apática, mas isso aqui é a prova do contrário", discursou o presidente. "A esquerda radical e a direita radical se uniram aqui."Desde o final da tarde, milhares de partidários de Correa reuniram-se nos arredores do bairro de Michelena para vê-lo. "Votarei nele porque ele soube distribuir as riquezas do Equador de modo mais equitativo", disse Cleuny Torres, perto do palco onde o presidente discursou. A campanha eleitoral para o primeiro turno terminou ontem com uma série de comícios dos oito candidatos ao Palácio de Carondelet por todo o país. Durante 42 dias, os presidenciáveis percorreram a maioria das 24 províncias do Equador, mas não conseguiram, na opinião de analistas, mobilizar a população, que já trata como inevitável a vitória de Correa."Foi uma campanha marcada pela apatia do povo, que não teve muito interesse nela, parte em razão das normas impostas pelo Conselho Nacional Eleitoral. Foi uma campanha curta e as coligações tiveram pouco tempo de ser conhecidas pela população", afirmou ao Estado o cientista político Simón Pachano, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). "Além disso, nenhum candidato teve uma mensagem clara, nem mesmo Correa, que contou com mais exposição na mídia que os outros. A oposição, por sua vez, fez uma campanha muito ruim. Não apresentou propostas e nenhum candidato se colocou como alternativa a ele." Para o chefe do comitê provincial de Pichincha, a província equatoriana que abriga Quito, Fabián Herrera, Correa vencerá a eleição ainda no primeiro turno "por ter feito os equatorianos voltarem a ter orgulho de ser equatorianos" e por ter levado melhor qualidade de vida às áreas mais pobres do país. "Essas pessoas agora têm a atenção do governo em áreas como Saúde e Educação que antes não tinham", disse o militante ao Estado. "Além disso, a dignidade voltou ao país. Antes tínhamos vergonha de dizer que éramos equatorianos. Votávamos uma vez por ano para presidente e éramos mal vistos internacionalmente. De minha parte posso te dizer que tinha vergonha de dizer que era do Equador." Herrera é músico e diz trabalhar como voluntário na campanha. Segundo ele, esse é o caso de 80% das pessoas que trabalham pela reeleição de Correa. "Não saberia dizer quantos somos ao todo porque é um trabalho de base. Cada comitê mobiliza uma equipe, que mobiliza um bairro e por aí vai. Aqui em Pichincha, somos 154 mobilizadores." Nas ruas de Quito, principalmente nos bairros pobres, o material de campanha do presidente é o que se faz mais presente.Na Plaza Grande, a principal de Quito, a percepção da maioria das pessoas é de uma vitória fácil do presidente. "Correa vai ganhar com mais de 70% dos votos", disse o motorista de ônibus Alejandro Aguirre. "Ele faz muitas obras, estradas, hospitais. Faz mais do que os outros fizeram quando estavam lá." Eleitor de Guillermo Lasso, o operador de máquinas de raio X Pablo Ibaje admite que será difícil tirar Correa do Carondelet. "Gosto das propostas de Lasso, os impostos subiram muito e ele quer diminuí-los, mas dificilmente Correa perde."Lasso, que fez seu último comício em Guayaquil, partiu para o ataque contra Correa, tentando tirar votos do presidente. Em entrevista à Rádio i99, o candidato, que construiu a carreira no setor bancário, disse que Correa lhe pediu dinheiro para sua primeira campanha presidencial, em 2006: "Quando era candidato pedia apoio aos banqueiros e agora ataca o setor financeiro e lança uma campanha suja imoral abusando de seu poder na mídia".Em virtude da crise financeira que assolou o Equador na virada do século, os equatorianos tiveram suas poupanças confiscadas e os bancos foram resgatados pelo Estado. Até hoje, o setor tem uma imagem ruim perante a população. Lasso, que foi diretor do Banco de Guayaquil e ministro da Economia durante a crise, tem em seu passado um dos fatores que minam seu crescimento nas pesquisas, dizem analistas.

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