Favorito para liderar Líbia, Mahmud Jibril adota tom de conciliação

Resultados parciais confirmam vitória da Aliança das Forças Nacionais, de Jibril, que elogiou 'transparência'

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Por ANDREI NETTO e TRÍPOLI
Atualização:

TRÍPOLI - Resultados parciais divulgados na noite de segunda-feira, 9, pela Comissão Eleitoral da Líbia confirmam os prognósticos de que a Aliança das Forças Nacionais (NFF), partido moderado e secular, deve ser o grande vencedor das eleições parlamentares de sábado. O líder do NFF, Mahmud Jibril, adotou um tom conciliador, elogiando o trabalho da Comissão Eleitoral. "É um verdadeiro milagre que essa eleição tenha sido tão bem-sucedida e tão transparente", disse ao Estado Jibril.

 

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Em pronunciamento à imprensa internacional, o ex-primeiro-ministro do Conselho Nacional de Transição (CNT) se recusou a comentar os prognósticos de vitória de seu partido, alegando que "a Líbia saiu vencedora" e a eleição - a primeira desde os anos 50 e após a queda do regime de Muamar Kadafi - deve servir para unir o país em torno de um plano de reconstrução. Oito meses de guerra deixaram mais de 20 mil mortos e cerca de 16 mil desaparecidos.O partido de Jibril obtém resultados esmagadores em cidades progressistas, como Janzour, na região metropolitana, mas é superado em bastiões conservadores do país, como Misrata. Ainda assim, a NFF deve superar o partido da Irmandade Muçulmana.A contagem parcial foi anunciada pela comissão na noite de ontem, em Trípoli, encerrando dois dias de silêncio das autoridades. Em Janzour, uma das maiores cidades cujos resultados já começaram a ser apurados, a Aliança Nacional venceu com impressionantes 26,7 mil votos, contra os 2,4 mil do segundo colocado, o Partido Justiça e Construção (AB), da Irmandade Muçulmana. A mesma tendência foi verificada em Zliten, a 161 quilômetros a leste da capital, onde o NFF somava na noite de ontem 19,2 mil votos, contra 5,6 mil de seus concorrentes religiosos. Já em Misrata, a 213 quilômetros também a leste de Trípoli, o resultado era favorável aos conservadores com 84% das urnas apuradas. Mas quem ficou à frente foi um pequeno partido local, a União pela Pátria, liderado por personalidades da cidade, somava até a noite de ontem 20,6 mil votos, contra 17,1 mil da Justiça e Construção. Em terceiro ficou o partido radical islâmico Nação (Wattan), liderado por outra personalidade do país, Abdelhakim Belhadj, ex-membro redimido da Al-Qaeda. Em Misrata, a Aliança Nacional obteve só 6,5 mil votos, em quarto lugar. Obstáculos

 

Os resultados de Trípoli, maior centro urbano do país, e Benghazi, o segundo, ainda não foram revelados pela Comissão Eleitoral. A apuração ainda pode levar quatro ou cinco dias e a demora foi justificada pela Comissão Eleitoral pelas dificuldades logísticas do país. A Líbia tem grandes extensões de terras desérticas no Saara e, para trabalhar, a comissão depende de fortes esquemas de segurança. As urnas são transportadas até o aeroporto militar de Mitiga, na capital, onde a apuração das 13 circunscrições do país foi concentrada.Essa preocupação com a segurança se dá porque milícias armadas que defendem o movimento federalista, com maior autonomia para a região de Cirenaica - onde fica Benghazi -, prometeram sabotar o processo eleitoral. No sábado, eles realizaram ataques contra seções em Benghazi, em Ajdabiyah - onde uma pessoa foi morta - e contra Derna, todas no leste do país. Apesar da prudência de Jibril, muitos dos 3,7 mil concorrentes ao Congresso Nacional já vêm admitindo a vitória da Aliança Nacional. Mabrouk Daredi, aspirante a uma vaga pela região de Trípoli, reconheceu ontem suas chances "mínimas" de ser um dos 200 deputados eleitos e elogiou o grande vencedor. "Jibril assumiu a liderança desde o início da revolução, encontrou-se com líderes políticos mundiais, fez uma ótima campanha e por isso é o favorito disparado", afirmou orgulhoso do sucesso da votação, apesar de sua derrota. "Foi uma eleição muito limpa, muito transparente. O mundo esperava violência e nós mostramos que somos um país mais maduro."Nas ruas de Trípoli e de sua região metropolitana, o mesmo orgulho continua a tomar conta dos cidadãos líbios. E, como previsível, esse sentimento é ainda mais forte entre eleitores moderados. "Com Jibril, nós vamos começar todos juntos a reconstruir o país e a enterrar de uma vez os anos de ditadura de Kadafi", disse o engenheiro Mohamed Abukhatwa, que veio dos Estados Unidos para votar pela primeira vez.

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