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Feliz aniversário e adeus a Michelle Obama

A primeira-dama dos EUA, antes tida como uma marxista inveterada, comporta-se agora como princesa mimada

Por MAUREEN DOWD
Atualização:

Os críticos a descreviam como marxista inveterada. Agora, a definem como uma princesa mimada. Durante a campanha, a revista The New Yorker estampou na capa uma caricatura dela como militante dos Panteras Negras sempre pronta para a briga. Agora um blogueiro do New York Daily News zomba dela como uma perdulária Maria Antonieta do jet-set - de férias na Costa del Sol, na Espanha, com a filha Sasha, no dia do 49.º aniversário do marido. Na realidade, ela parece dizer: você pode comer seu bolo sozinho. Michelle Obama é a figura mais popular do governo, mas na semana passada teve mais um embate com a imprensa. Alguns dos âncoras dos noticiários da MSNBC indagaram se a primeira-dama não estaria sendo "má" com o marido, deixando-o sozinho no dia do aniversário para dar uma escapadela até a Espanha com as meninas, e se não era muito triste que o presidente, sufocado pelos problemas, tivesse de ir até Chicago para encontrar amigos (entre eles a apresentadora de TV Oprah) para comemorar. Andrea Tantaros, da Fox, ex-republicana, escreveu uma dura mensagem no blog do Daily News chamando a primeira-dama de "mulher materialista", por passar férias nababescas em um balneário de luxo, em Marbella, com um séquito de agentes do serviço secreto, amigos, crianças e equipe, enquanto "a maioria, neste país, conta os centavos e se satisfaz com férias mais curtas e sem muitos gastos - ou mesmo as esquece totalmente". Na política e na cultura popular, a questão da imagem é tudo. E a imagem exibida por Michelle se traduziu numa mensagem que provavelmente provocou arrepios na Casa Branca e no Partido Democrata. Aparentemente, ela menosprezou o marido, pensando: "Vou fazer o que tenho vontade de fazer. Não me importa que isto dê munição ao Tea Party ou se fará a campanha dos democratas (você incluído) contra os excessos dos ricos parecer hipócrita. Mesmo que o país esteja resvalando para uma recessão muito profunda, resolvi ir para um hotel cinco-estrelas no exterior, no Air Force One, e ajudar a recuperar a economia de outro país."Para rebater as críticas sobre sua futura viagem de dez dias para Martha"s Vineyard, Michelle concordou tardiamente com férias familiares de fim de semana na costa do Golfo, na Flórida. Na sexta-feira, a polícia espanhola fechou um balneário público para a comitiva americana. Se Michelle queria uma praia fechada, poderia ter ido logo para o litoral americano. Há muitos hotéis cinco-estrelas lá, e ela e as garotas poderiam aproveitar para limpar alguns pelicanos. Evidentemente, como afirma o assessor de Obama, David Axelrod: "Nem tudo é teatro político." A família Obama não deveria recorrer a uma consulta popular, como fazia o casal Clinton, para decidir onde passar as férias. "As personalidades públicas também são seres humanos", disse Axelrod. "Se você tem a possibilidade de mostrar aos seus filhos um lugar do mundo, e pode acompanhá-los antes que cheguem à idade em que não farão mais nada com você, não acho que deva adiar seu projeto por causa da política." Mas com Michelle e seus amigos divertindo-se na terra do flamenco, o aniversariante recebeu poucos presentes da imprensa. Vários candidatos democratas evitaram aparecer ao seu lado. A decepção provocada pelo mais recente relatório relativo ao emprego suscitou comentários no noticiário da noite sobre os temores dos cidadãos deste país de caírem no "abismo". Além disso, uma pesquisa da CNN mostrou que 25% da população americana ainda duvida que o presidente tenha nascido neste país. A função de primeira-dama, extremamente limitada pelas convenções, é pesada para uma mulher moderna. Michelle é uma corajosa advogada formada em Harvard, que começou como orientadora do marido, então estagiário, num escritório de advocacia. Qualquer tendência a sair das linhas predeterminadas para a sua função pode causar problemas, como Nancy Reagan e Hillary Clinton aprenderam ao serem tachadas de Marias Antonietas. Michelle tem feito um trabalho tão bom, que calou durante um ano e meio seus críticos conservadores sempre prontos a vilipendiá-la. Mas, cansada de ridicularizar o estereótipo da "negra briguenta",tendo de bancar a sorridente primeira-dama convencional e falar ao Ladies" Home Journal sobre os cuidados da horta e o tamanho das porções, talvez tenha sentido vontade de afirmar sua independência da única maneira que ela podia: decidindo sua própria agenda. A inimitável colunista Mary McGrory disse certa vez que, se uma primeira-dama preparasse simplesmente as torradas do café da manhã do marido, já seria o bastante, considerando a dureza da função que ele exerce. E, como seu predecessor fez o caos que todos conhecem sem se importar minimamente, a função de Obama é ridiculamente difícil. Mas quando imaginamos que Michelle esteja preparando a torrada para o marido, ou mesmo seu Martini, ela muitas vezes está viajando com as meninas. Quando a reforma da saúde foi aprovada depois de um ano muito difícil e o presidente comemorou com a sua equipe no Truman Balcony, a sacada da Casa Branca, a primeira-dama estava com as filhas na Broadway, assistindo a Memphis. Quando o vazamento de petróleo da BP respingou na Casa Branca, fazendo o presidente parecer tão impotente que teve de fazer seu primeiro discurso nacional do Salão Oval, a primeira-dama estava passeando com a mãe e as filhas em Los Angeles, no Beverly Wilshire. Na noite do seu discurso, ela assistiu a um jogo dos Lakers. Durante a campanha, Michelle procurou compensar o afastamento existencial forçado do marido com o calor da família. Agora que ele ocupa o cargo mais solitário do mundo, ele precisa desse calor mais do que nunca. / TRADUÇÃO DE ANA CAPOVILLAÉ COLUNISTA

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