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Feministas afegãs são atacadas por multidão

Extremistas jogam pedras contra grupo de 300 mulheres que protestava contra a lei que, segundo elas, ?legaliza o estupro? no Afeganistão

Por REUTERS e NYT E AP
Atualização:

Um protesto de pelo menos 300 afegãs quase terminou em tragédia ontem em Cabul, quando cerca de mil pessoas atacaram com pedras a manifestação feminista contra uma nova lei que permite aos xiitas do Afeganistão exigir relações sexuais de suas mulheres a cada quatro dias. Organizações de defesa dos direitos humanos afirmam que a lei legaliza o estupro. Além de não poder rejeitar a relação sexual com o parceiro - exceto quando estiverem doentes -, a legislação também diz que as mulheres só podem procurar trabalho, estudar ou visitar médicos com a autorização dos maridos. "Cadelas, escravas dos cristãos", gritou a multidão, de homens e mulheres, contra as manifestantes, que foram protegidas pela polícia. A lei é válida apenas para a minoria xiita do Afeganistão, cerca de 20% dos 30 milhões de afegãos. No entanto, muitos temem que a nova legislação marque o retorno do período em que o Taleban impunha duras regras no país, principalmente para as mulheres. Durante o regime do Taleban, de 1996 a 2001, as afegãs eram obrigadas a usar a burca, que as cobriam da cabeça aos pés, e eram proibidas de sair de casa sem uma companhia masculina. A dança e a música eram consideradas criações do demônio e não era permitida nenhuma forma de diversão. Bonecas e animais de pelúcia eram condenados, assim como qualquer representação de seres vivos - até as fotografias entraram na clandestinidade. Sob o Taleban, quem fosse apanhado com CDs ou fitas de vídeo corria o risco de ser condenado à morte. Governos de vários países ocidentais e organizações de defesa dos direitos humanos em todo o mundo condenaram a nova lei. O presidente dos EUA, Barack Obama, qualificou a legislação de "desprezível". CRÍTICAS O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, teria assinado a medida para obter o apoio dos xiitas a sua reeleição. No entanto, pressionado, ele enviou o texto na semana passada para o Ministério da Justiça para "avaliação" e suspendeu temporariamente os efeitos da nova legislação. Intelectuais afegãos, políticos e ministros do próprio governo manifestaram-se contra a lei. Contudo, os que se opuseram publicamente à proposta foram duramente criticados pelos clérigos conservadores e xiitas extremistas, como os que participaram da contraofensiva às feministas ontem em Cabul. O principal alvo da manifestação de ontem era Mohamed Asif Mohseni, clérigo radical xiita que apoia a nova lei. As feministas escolherem um local arriscado para o protesto: em frente da mesquita Khatam Al-Nabi, de Mohseni. RADICAIS Os muçulmanos conservadores afirmam que a manifestação feminista é uma forma de pressão para impor valores ocidentais ao Afeganistão. "Você não é uma mulher xiita", berrou um afegão contra uma das manifestantes que cobria a cabeça com um lenço vermelho. Segurando um cartaz que dizia "Não queremos as leis do Taleban", ela respondeu timidamente: "Esta é minha terra e meu povo", reclamou a manifestante. "Esta lei trata as mulheres como se fossem gado."

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