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Fertilizante venezuelano cai em mãos do tráfico

Ureia produzida no país não chega a centros produtores de alimentos da Venezuela e, segundo denúncias, beneficia cultivos de coca na Colômbia

Por Phil Gunson
Atualização:

É longa a viagem dos milharais de Guárico, na Venezuela, até os laboratórios de refino de cocaína na Colômbia. Mas agricultores venezuelanos e cartéis de traficantes formaram uma associação curiosa - prejudicando o agricultor. A ureia, fertilizante rico em nitrogênio e considerado vital para o cultivo de variedades que vão do tomate ao milho, é usada também para fertilizar os pés de coca que proporcionam a matéria-prima para a fabricação da cocaína. Um próspero mercado negro que desvia o fertilizante destinado às colheitas legais para usá-lo no cultivo da droga provocou uma redução na produção agrícola venezuelana, contribuindo para aumentar a dependência do país na importação de alimentos.Pode não ser coincidência o fato de o venezuelano Walid Makled, acusado de chefiar cartéis do tráfico e atualmente sob custódia numa prisão colombiana aguardando uma possível extradição para os Estados Unidos, ter sido contratado para distribuir ureia a serviço da petroquímica estatal Pequiven. O governo venezuelano, que deseja ver Makled julgado em Caracas, reconhece que boa parte do fertilizante jamais chegou aos agricultores que deveriam ser beneficiados com a sua distribuição. No papel, o país produz pelo menos o dobro da ureia de que necessita. O governo subsidia o uso da substância - no ano passado, tais subsídios corresponderam a cerca de US$ 100 milhões. Mas os agricultores dizem que não recebem o fertilizante em quantidade suficiente - principalmente no início da temporada de plantio, em maio. "Aqui no Estado de Portuguesa", disse o agricultor Antonio Pestana, empregado no cultivo do arroz, "temos de começar a estocar ureia a partir de janeiro, o que implica altos custos de armazenamento. Ainda assim, falta-nos entre 10% e 15% do total necessário". Os Estados de Portuguesa e Guárico disputam a liderança na produção de arroz. Pestana disse que a situação de escassez era ainda pior em Guárico, correspondendo a 25% ou 30% do total de que necessitam os agricultores locais. Em 2007 - portanto depois de Makled perder a concessão de distribuição da substância -, o presidente da associação dos agricultores, Gustavo Moreno, disse que a escassez de fertilizante reduziu a colheita de Guárico em aproximadamente 90 mil toneladas. Na época a afirmação foi rechaçada pelo presidente da Pequiven, Saúl Ameliach, mas sustentada por Iván Lugo, legislador governista que disse que apenas 30% da ureia necessária tinha de fato sido distribuída.

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