''Fervor do martírio'' perde força em Gaza

Muro israelense e redução da cultura do sacrifício fazem atentados suicidas quase desaparecer

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Por Gustavo Chacra
Atualização:

O Hamas substituiu os ataques suicidas por mísseis no confronto contra Israel. O número de atentados cometidos por homens-bomba está em declínio desde 2002. No mesmo período, os disparos de projéteis contra o território israelense desde a Faixa de Gaza se multiplicaram. Apesar das ameaças, o grupo palestino não lançou nenhuma operação suicida bem-sucedida no atual conflito. Há explicações estratégicas e ideológicas para esta mudança. Primeiro, a partir de 2002, quando foram realizados 55 atentados suicidas com a morte de 220 pessoas, Israel passou a defender-se melhor deste tipo de ação. A principal medida foi a construção de um muro para separar o território israelense de áreas palestinas da Cisjordânia - certas regiões palestinas foram incorporadas por Israel. Como resultado, de acordo com o professor Assaf Moghadan, do Centro de Combate ao Terrorismo da Academia Militar de West Point, nos EUA, os israelenses conseguiram impedir que essa forma de ataque prosseguisse. "Mas não podemos esquecer que a cultura do martírio na sociedade palestina está em declínio. Claro, muitos jovens palestinos continuam a venerar os ?shahid?, ou mártires, e muitos estão dispostos a morrer pela causa. Mas o cenário atual não pode ser comparado ao difundido culto do sacrifício que existia no auge da segunda intifada (2000 a 2006)", disse o professor, especialista no tema. Para Moghadan, os ataques suicidas são efetivos pois matam e ferem mais pessoas do que outros tipos de ataques terroristas. Conforme o professor da Universidade de Chicago Robert Pape escreveu em seu livro Dying to Win - The Strategic Logic of Suicide Terrorism (Morrendo para vencer - a lógica estratégica do terrorismo suicida), essa é uma das melhores formas de lutar contra a ocupação. O problema do Hamas é que, com a barreira israelense, o grupo teve de "recorrer a uma nova tática para superar a separação e a saída foi disparar foguetes" contra o sul de Israel, afirma o professor de West Point. Em 2007 e 2008, houve apenas um atentado suicida em cada ano, com quatro mortes - menos de 2% do total de seis anos antes, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores de Israel. Hoje, em Israel, a paranoia de ser vítima de um atentado é menor do que na época da intifada. Essa segurança que israelenses têm hoje para circular em Tel-Aviv ou Jerusalém teve como consequência o aumento do risco de viver em cidades perto da Faixa de Gaza, como Sderot e Ashkelon, que representam 15% da população do país. Em 2002, o Hamas e outros grupos palestinos dispararam 35 foguetes contra o território israelenses desde a Faixa de Gaza. No ano passado, este número subiu para 1.730, além de 1.528 morteiros (220 há seis anos), de acordo com dados do Centro de Informação de Inteligência e Terrorismo de Israel. Além dos que atingiram Israel, calcula-se que um número semelhante de projéteis não tenha conseguido passar da fronteira e terminaram por cair no próprio território palestino.

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