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Filho de brasileira se juntou a jihadistas sírios

Por VIVIANE VAZ e BRUXELAS
Atualização:

A possível ofensiva militar do governo dos EUA na Síria é um tormento a mais para a brasileira Rosana Rodrigues, moradora da pequena cidade de Rummen, na Bélgica. Seu filho, Brian De Mulder, de 20 anos, foi aliciado pelo movimento radical islâmico Sharia4Belgium e levado para a Síria em janeiro para lutar com os rebeldes contra a ditadura de Bashar Assad. "Esse pessoal é pior do que macumba. Eles fazem uma lavagem cerebral nos jovens. Eles são muito fortes", diz Rosana, sobre o grupo salafista que levou seu filho. "Quantos meninos belgas de origem marroquina foram para a Síria? Quantos têm famílias que ficariam felizes se morressem por Alá? Acham que vão encontrar o Paraíso. Deus não me deu um filho para perder desse jeito."O Ministério de Interior da Bélgica estima que pelo menos 600 europeus tenham sido recrutados pelas forças de oposição na Síria. Destes, entre 80 e 100 combatentes seriam belgas - 9 deles regressaram à Bélgica e suas ligações com movimentos extremistas islâmicos estão sendo investigadas. Segundo Rosana, os passos de seu filho vinham sendo rastreados desde 2011, quando começou a frequentar a mesquita do clérigo salafista Fouad Belkacem (também chamado de Abu Imran), em Antuérpia, e se converteu ao Islã. A mesquita foi fechada em junho do ano passado e Belkacem, preso. Em busca de uma explicação sobre a decisão do filho de lutar na Síria, Rosana questiona à polícia se Brian poderia ter sido "vendido" pelo clérigo às forças de oposição a Assad. Segundo ela, o filho teria ficado deprimido após ser dispensado do time de futebol da cidade e foi levado por amigos à mesquita. Depois, o jovem, que fala português, holandês e francês, estudava contabilidade e fazia estágio numa companhia de seguros de saúde, mudou a rotina e passou a chegar em casa de madrugada. "Aconselhei-me com um psicólogo, que recomendou que eu não o impedisse, pois seria uma moda passageira", lembra Rosana. Não foi.No dia 23 de janeiro, Brian saiu de casa levando apenas a roupa do corpo - não tinha nem cartão de crédito. Despediu-se da família e nunca mais voltou. A polícia belga confirmou que a conta de e-mail do jovem foi acessada de Damasco antes de ficar inativa e um vídeo de um grupo de combatentes na internet mostrou entre eles um rapaz que poderia ser Brian. Conhecida pela tolerância e diversidade cultural e um dos portos de entrada de refugiados na Europa, a Bélgica tenta lidar com a ascensão do extremismo islâmico em casa. "Uma cidade como Antuérpia deve ser como um time de futebol: diferentes personalidades e origens, mas todos jogando sob as mesmas regras", diz o prefeito Bart De Wever. Pelo menos 23 moradores deixaram a cidade para lutar na Síria, segundo a prefeitura.

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