17 de outubro de 2017 | 12h53
VALLETTA - O filho da jornalista investigativa maltesa Daphne Caruana Galizia, morta na explosão de seu carro, denunciou nesta terça-feira, 17, a "cultura de impunidade" que existe no país e culpou o governo de Joseph Muscat e outras autoridades pelo crime.
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"São cúmplices, são responsáveis por tudo isto", acusou Matthew Caruana Galizia em publicação no Facebook. "Minha mãe foi assassinada porque se interpunha entre o Estado de Direito e os que querem violá-lo, como muitos outros fortes jornalistas", disse ele. Matthew também é membro do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), que revelou o caso dos Panama Papers em 2016.
Matthew lembrou o momento em que encontrou o carro envolto em chamas no qual morreu sua mãe, de 53 anos, que investigava a relação entre a classe política maltesa com casos de corrupção.
"Esta não foi uma morte comum ou trágica. Trágico é que alguém seja atropelado por um ônibus. Quando há sangue e fogo ao redor de você, é guerra. Somos um povo em guerra contra o Estado e o crime organizado, que se têm tornado indistinguíveis", denunciou.
Ele disse ainda que Malta é "um Estado da máfia, onde você pode mudar seu gênero na carteira de identidade (graças a Deus!), mas onde pode ser despedaçado por exercer suas liberdades essenciais".
Em sua opinião, "o governo de Malta permitiu que floresça uma cultura da impunidade". Ele também acusou o premiê Muscat de "alentar essa mesma impunidade", ao "encher seu escritório de delinquentes e imbecis e os tribunais de delinquentes e incompetentes".
"Se as instituições estivessem preparadas para agir, não haveria assassinatos a investigar, e os meus irmãos e eu ainda teríamos uma mãe", completou.
O filho da jornalista concluiu sua denúncia dirigindo-se diretamente a Muscat, ao seu chefe de gabinete, Keith Schembri, ao ministro de Economia, Chris Cardona, ao de Turismo, Konrad Mizzi, ao procurador-geral e à "longa lista de chefes de polícia que não tomaram nenhuma medida".
Julian Assange, fundador do site WikiLeaks, manifestou sua indignação em sua conta no Twitter e ofereceu uma recompensa de € 20 mil por informações que ajudem a condenar os responsáveis pela morte da jornalista.
A Comissão Europeia afirmou nesta terça-feira que está "horrorizada" com o assassinato de Daphne. "Estamos horrorizados com o fato de que uma jornalista conhecida e respeitada, a senhora Daphne Caruana Galizia, perdeu a vida no que parece ter sido um ataque especificamente dirigido contra ela", disse o porta-voz do Executivo europeu, Margaritis Schinas. "É um ato escandaloso. Agora esperamos que se faça justiça", disse.
Daphne "era uma pioneira do jornalismo investigativo em Malta", disse o porta-voz, antes de afirmar que o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, e seus comissários "condenam com a máxima firmeza este ataque". / EFE e AFP
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