Filho de Kadafi foge para o Níger em comboio

Ex-jogador de futebol, Saadi foi recebido pelo país vizinho por ''motivos humanitários''; é a segunda fuga confirmada de parentes do ditador foragido

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Por Lourival Sant'Anna
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ENVIADO ESPECIAL / TRÍPOLI - Um dos filhos do ditador Muamar Kadafi, Saadi, chegou ontem ao Níger em um comboio acompanhado de oito pessoas, cuja identidade não foi revelada. De acordo com o Ministério da Justiça, Saadi, o terceiro filho de Kadafi, ex-jogador de futebol, chegou à cidade de Agadez, no centro do país, que faz fronteira com a Líbia ao sul, e foi recebido "por motivos humanitários". O comboio se dirigiu depois para a capital, Niamey.

 

 

Saadi jogou no time Al-Ahel, de Trípoli, e também no Roma e no Perugia. Foi capitão da seleção líbia e presidente da Federação de Futebol do país. Na Líbia, Saadi jogava sempre com a camisa 10 e tinha o hábito de esmurrar jogadores que ousavam tomar a bola dele, com a proteção dos juízes e seguranças.

Durante uma partida do Al-Ahel contra o Al-Ahli, em Benghazi, em 1997, torcedores levaram um jumento para o estádio, com o número 10, e gritaram: "Saadi, filho de Safiya (a mulher de Kadafi), você destruiu o futebol da Líbia." No intervalo, forças de segurança abriram fogo e mataram vários torcedores. A partida continuou no segundo tempo normalmente.

É a segunda fuga confirmada de parentes de Kadafi, cujo paradeiro permanece desconhecido. No dia 29, o governo da Argélia anunciou que a mulher dele, Safiya, a filha Aisha e dois de seus filhos, Mohammed e Hannibal, tinham se refugiado no país. Ao longo da última semana, vários comboios foram vistos chegando ao Níger. O governo local confirmou que dois generais de Kadafi estavam neles.

O Níger, assim como o Chade, Burkina Faso e outros países da região, estiveram tradicionalmente sob influência de Kadafi e são considerados seus possíveis abrigos. O Conselho Nacional de Transição (CNT) acredita, no entanto, que Kadafi ainda não tenha deixado o país, estando provavelmente na região de Sabha, 780 km ao sul de Trípoli, ou de Bani Walid, 150 km a sudeste.

A agência Reuters informou ter visto Bouzaid Dorda, ex-primeiro-ministro e chefe do serviço de espionagem exterior, sob custódia de 20 combatentes do CNT. Ele estava sentado em um sofá em uma casa em Trípoli. Estima-se que cerca de 2 mil pessoas acusadas de vínculos com o regime de Kadafi estejam presas somente na capital.

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Novo governo. O primeiro-ministro do governo de transição, Mahmud Jibril, anunciou ontem que a Líbia retomou no sábado a produção de petróleo. Ele não informou o número de barris por dia nem o local de produção. Jibril informou ainda que um novo governo de transição, que incluirá mais correntes políticas, será formado dentro de sete a dez dias. Jibril tem sido acusado de favorecer pessoas ligadas a ele nos postos do governo.

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